A revista científica “New England Journal of Medicine” (NEJM) publicou, nesta semana, um relato de caso de uma paciente da Alemanha que sofreu de loíase, doença causada por um verme no olho (assista ao vídeo ao final).
O verme que causa a loíase, da espécie Loa loa, é frequente (endêmico) no centro e no oeste da África, e é transmitido por moscas do gênero Chrysops. (A doença não é transmissível de pessoa para pessoa).
A paciente alemã, uma antropóloga de 36 anos, foi infectada durante uma viagem a trabalho para a República Centro-Africana. Segundo os médicos que relataram o caso, a mulher buscou atendimento em uma clínica com uma “estrutura semelhante a um verme em movimento na pálpebra esquerda”.
O oftalmologista Paulo Schor, diretor de inovação e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que o Loa loa “tem predileção pelo olho porque a mosca pousa no olho. É uma doença super típica na África. Quando você olha no fundo de olho das pessoas lá, tem muita cicatriz dessa doença”, explica.
Vídeo mostra mulher com verme no olho, doença rara no Brasil
Perda de visão
O verme migra pelo corpo através do tecido subcutâneo e pode produzir áreas de inchaço inflamatório (conhecido como inchaço do Calabar).
Assim, o Loa loa não ataca diretamente a retina – que é responsável por captar e transmitir os estímulos luminosos para que possamos enxergar, mas fica próximo dela.
Quando é detectado pelo sistema imunológico, a reação de defesa do nosso corpo ao invasor pode trazer danos às estruturas próximas. Com isso, a pessoa infectada pode perder a visão ou parte dela.
“Deixar a pessoa sem visão é uma coisa muito ampla: pode afetar as células da retina, a transparência da córnea, as células que drenam o humor aquoso [líquido incolor e transparente do olho] e aumentar a pressão ocular, as células que estão em volta do nervo ótico e a visão de campo visual. Perda de visão é uma coisa muito ampla”, explica Schor.
Por causa da resposta do sistema de defesa do corpo, o tratamento da doença envolve também medicamentos que atenuem a resposta imune. A paciente alemã foi tratada com dietilcarbamazina (para eliminar o verme) e prednisolona, um corticoide (que ameniza essa resposta).
Publicidade
Os médicos relataram que não houve surgimento de novos vermes, mas não mencionam se houve ou não alguma perda de visão.
No Brasil
Fora do continente africano, o Loa loa é extremamente raro, mas ao menos um caso já foi descrito no Brasil: em 2012, médicos da Unifesp relataram o primeiro caso da doença no país – de uma mulher originalmente de Camarões. Ela foi tratada.
Paulo Schor explica que, no Brasil, o toxoplasma, que causa a toxoplasmose, é o parasita mais preocupante. O micro-organismo tem uma “preferência” pelo tecido do sistema nervoso central – como o da retina, o que pode levar à cegueira.
“A retina é um lugar que tem muito desse tecido nervoso, com muita mielina. O bicho [toxoplasma] vai lá e fica fechadinho nessa região. De vez em quando ele abre, e a gente tem um ataque muito grande do nosso sistema imunológico. A reação é tão grande que destrói o tecido que fica em volta”, explica Schor.
O toxoplasma é encontrado em alimentos ou fezes de gatos contaminadas e também é transmissível da mãe para o bebê durante a gravidez.