Turismo no Amazonas
Conheça Silves: A cidade-ilha mais encantadora da região metropolitana de Manaus
Publicado
7 anos atrásno
Amazonas – Ilha de Saracá, para os mais antigos, ou “Cidade Risonha” para quem chegou agora, são os dois nomes culturais que compõe o município de Silves, no Amazonas, conhecido pela forte ancestralidade indígena, pelas vorazes batalhas travadas com os portugueses e por um dos últimos títulos amazonenses de vila pacata. A cidade, a 333 km de Manaus, com quase 10 mil habitantes, tem 355 anos de muitas lendas, conquistas e obstáculos a serem ainda superados.
Integrante da região metropolitana da capital, o acesso à principal cidade se dá pela rodovia AM-010. Após o percurso, os visitantes viajam de balsa até uma ilhota, onde está localizada a sede municipal da cidade.
Na pequena localidade, destaca-se a prefeitura e a praça da Matriz. O local abriga o patrimônio histórico mais antigo do município, a igreja de Nossa Senhora da Conceição, e a conhecida orla silvense, que dá ao ponto de encontro da cidade, um aspecto familiar de pequenos municípios ribeirinhos.
Quem mora na cidade ilhada sobrevive com uma economia simples, com destaque para a agricultura familiar, em que se cultiva principalmente mandioca e tucumã. O comércio é efetivo em três ruas principais e muitas pessoas são empregadas no serviço público. Nostalgicamente, todo filho adulto de Silves –diz carregar lembranças de encontros e desencontros com pessoas de décadas atrás. Muitas delas e seus descendentes ainda permanecem na pequena e bucólica cidade do Amazonas.
Família para sempre
“Quando era perto das cinco da tarde eu sempre estava na rua com os meus oito amigos da rua do Castelão para brincar. Todos os dias a gente se encontrava na mesma hora marcada e ficávamos até tarde, quando chegava a hora de voltar para casa. A cidade era tão calma que nossos pais ficavam sossegados em nos deixarem sozinhos. Se eu pudesse resumir minha infância em uma palavra seria maravilhosa”, são palavras da pedagoga Ruth de Souza Porfírio, de 33 anos, que viveu sua infância e juventude na cidade, morando na mesma rua, Avenida Castelo Branco.
Com o passar dos anos, os amigos partiram e foram construir a vida em outros lugares. Atualmente, residindo em Manaus, vez ou outra se encontra com os amigos para renovar os laços de infância.
Ontem e hoje
Ruth traz lembranças de quando morou na ilha. “Era mais feliz de se viver antes do que hoje”. Para ela, as relações eram mais profundas, havia uma pequena taxa de criminalidade e a ausência das tecnologias onlines deixava as pessoas mais próximas.
“Os costumes tradicionais de família vigoravam em quase todo o lugar. O rapaz, quando ficava afim das meninas, só beijava de selinho e ainda escondido na quadra da escola. Ninguém era ousado para desobedecer. Quase não se via ladrão ou drogas nas ruas. Nem havia tantas motos na rua”, recorda.
Após 20 anos de moradia, a pedagoga conclui dizendo que não se enxerga mais habitando a cidade. “Após meus avós morrerem e meus pais se mudarem para a fazenda, decidi vir para Manaus. A urbanização mudou muito as coisas na cidade. A taxa de crimes é alta demais para uma cidade tão pequena. Foi um tempo bom em que cresci lá, mas que não volta mais”, termina.
Cartão-postal
Quem chega às margens da cidade se depara com a praia grande e o jardim frontal, feito com hibiscos, papoulas e flores da região, abrigando as casas mais antigas de Silves junto com os bares e restaurantes da pracinha, findando o horizonte a oeste na praia do terceiro.
O obelisco da praça da Matriz é um dos principais pontos que chamam a atenção com sua arquitetura centenária. Cores vibrantes compõe o cenário que formam, com a capela de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do município, o cartão postal da cidade.
Mais adentro da cidade, a única escola de Ensino Médio de Silves, o colégio Humberto de Alencar Castelo Branco, forma a educação dos alunos.
O professor Rodolfo Guedes Libório, de 58 anos, trabalha na mesma escola em que estudou e conta da evolução da educação no município.
“Nos anos 1960, Silves era muito pobre a ponto de não ter nem o luxo do querosene queimado para alumiar a cidade. A nossa escola era da primeira série (do Ensino Fundamental) até a quarta. Depois que chegou da quinta até a oitava série e por último o Ensino Médio”, explica.
Educação
Naquele tempo, a maioria dos alunos moravam nas três ruas principais, sendo as Avenidas Coronel Garcia, Castelo Branco e Senador Álvaro Maia, conhecidas popularmente entre a molecada como as ruas de cima, do meio e de baixo. Os pais e os professores eram quem encabeçava a formação de valores e costumes nas crianças, Guedes explica, e que todos viviam em uma só linha de raciocínio.
“Antes de sair da escola, os meninos tomavam a bênção dos mais velhos só para quando chegassem na sala de aula ouvirem de novo sobre a obrigação. Os pais atuavam em conjunto com os professores para manter a ordem. Todo mundo se cumprimentava na rua. Em casa, havia a hora de acordar, de ajudar nas tarefas de casa e de rezar antes de dormir. Até os festivais culturais da época eles faziam por conta própria”, destaca.
Apesar do crescimento da cidade não ser significativo nos últimos 50 anos, moradores relatam que questões sociais como saúde, educação, cidadania eram mais valorizados que atualmente. “Tive vivências que as crianças de hoje nem sonham em ter. Saí mais preparado de casa para enfrentar o mundo, por causa de tudo o que aprendi. Se você prepara bem o seu povo para o futuro, não vai ter prejuízos grandes para a sociedade. Infelizmente, isto está se perdendo aqui por falta de incentivo”, lamenta.
Cultura regional
Os bairros mais populares dão uma visão única da região, como o bairro do Panorama, na parte mais alta da ilha. Do local é avistada praticamente toda a cidade em uma paisagem natural e singular.
No bairro do Mucajatuba há uma das maiores concentrações de plantação de mucajá, fruta típica do distrito.O biribá, o ingá, o cupuaçu, a pupunha e o cacau são outros exemplos de frutas encontrados na localidade.
As festas que marcam a cidade acontecem em período sazonais do ano, sendo sete festividades oficiais do município. A festa de aniversário de Silves, ocorrida em 23 de janeiro, lembra sempre os marcos históricos do povo que descende, parte dos europeus, e parte das três grandes tribos indígenas que habitavam a região, a caboquinas, a bararurus e a guanavenas.
O Festival Folclórico, planejado sempre para a primeira quinzena de julho, junta as crendices indígenas e mescla com os costumes do homem branco. Os bois Estrelinha e o Caprichozinho são os bois-bumbá oficiais da cidade, que sempre levam a folia de todas as noites de festa, além das danças internacionais ensaiadas pela população.
Procissões católicas também incluem o aspecto religioso das festividades regionais como a Festa do Divino e a de São Pedro, em que se separa 11 dias para rezar em gratidão e petições aos santos.
A Festa do Saracá, principal evento de Silves, é conhecido como o festival de verão, onde há competições, concursos de misses, comidas típicas e muita diversão.
Linha do tempo
Originalmente encontrada pelos portugueses, na ordem das Mercês, com o intuito de conseguir mão de obra escrava, a “Ilha de Saracá”, nome batizado pelos indígenas em homenagem à formiga local, iniciou sua história deixando em média 700 nativos mortos e 400 escravizados após três anos de guerra sangrenta.
O historiador silvense Vicente Neves, de 47 anos, sempre morou no município e retrata as principais narrativas do povo que denuncia de primeira a “carinha de índio”. Em 1612, ele conta, os europeus chegaram ao rio Urubu, confluente do rio Amazonas e que circunda Silves. Os europeus construíram a primeira habitação não indígena da época estabelecendo as fundações da primeira sede oficial do município.
Confira o vídeo mostrando os principais pontos da sede do município:
“Como a capitania de São José (Manaus) estava com um futuro promissor nas mãos, era preciso mais braços para fazer o trabalho pesado, não suficiente apenas para os índios já colonizados até então. O frei Raimundo, da comarca das Mercês, vem com a missão de converter mais nativos para o império colono descobrindo, em 1653 a Ilha de Saracá, após uma expedição rio abaixo de onde estavam alocados”, frisa.
Vislumbrada a Nova Silves, a cidade foi colonizada se tornando uma das fontes principais de recursos para a exploração portuguesa. A banha e os ovos de tartaruga e de peixe-boi, por exemplo, serviram como exportação de séculos para o usufruto das cidades europeias.
Em 1850, Silves comemora os 100 anos de vilarejo pela missão Saracá, onde a primeira igreja é fundada na cidade. A chegada da família espanhola Garcia também marca a linha de abastecimento entre Manaus e Belém, naquela época, o porto mais perto entre as duas cidades. Em1858 a vila é elevada à categoria de município.
Casas de madeira reunidas atrás do obelisco do Cristo
“Muito dos antigos costumes ainda são guardados pela população como o uso da argila para a fabricação de vasilhas e artesanatos e a forte atividade agropecuária. Daí, o ecoturismo também floresceu arrecadando benefícios ecológicos e sustentáveis para a população e o meio ambiente”, explica Neves.
Grande parte do que já se foi achado de relíquias históricas da cidade está no Museu Emílio Guedes, no Pará.
Geografia
Devido a falta de recurso para novas e mais completas pesquisas, o município conta com a iniciativa dos próprios moradores para perpetuar a história do distrito. Outro aspecto da cidade é a sua formação geográfica compondo o clima equatorial trazendo temperaturas quentes e dias úmidos.
O distrito do município é formado por oito regiões sendo Silves, Anibá, Boa Esperança, Lago Canaçari, Costa de Cucuiari, Costa de Murumurutuba, Lago Canaçari e Rebujão.
A geógrafa Maria Aparecida Viana Andradem, de 54 anos, explica que o período mais quente oficial é o mês de outubro, mas que, no dia a dia, não tem período certo para sentir o forte calor. “Em dezembro e parte de janeiro que é mais frio, por conta do inverno amazônico, mas o ano inteiro é mais quente que frio. Às vezes, fica até mais quente depois que chove”, frisa.
Ela diz que, por ser uma cidade pequena, o plantio é variado na tentativa de esquentar a circulação econômica regional, porém faltam mais investimentos por parte do poder público, além de mais auxílios à classe rural, o que torna o município com alto índice de pobreza.
“Além de não ter uma infraestrutura de mercado para abrigar a agricultura, as oportunidades são poucas. Mesmo com o Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam), capacitando os ribeirinhos, não há espaço para o trabalho”, revela.
Viana termina ressaltando que uma das vocações da cidade seria o turismo ecológico, aproveitando as belezas da região e o ambiente amazônico. “Nós aproveitamos até onde é possível. Sinto-me honrada de ainda ser professora, pois posso formar o futuro da minha cidade, ensinando muito sobre essa região. Acredito que estamos no começo de uma nova era”, finaliza.
Fonte : Nicolas Daniel / Em Tempo
Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.
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