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2 anos atrásno
Depois que perdeu o marido, a repórter Amanda Bennett embarcou em uma jornada interior para descobrir algumas tradições mundiais sobre a maneira de encarar a morte em diferentes culturas. Para a National Geographic de abril deste ano, Amanda traz a visão torajana para o falecimento.
Os torajanas moram em regiões isoladas da ilha Sulawesi, na Indonésia. Por lá, a morte, como conhecemos no Ocidente, é apenas um ritual de transição: por isso, o corpo da pessoa nunca é enterrado logo após o seu falecimento. Os rituais costumam levar dias, semanas e até anos para acontecer.
Enquanto isso, os corpos dos entes que partiram continuam fazendo parte da família, recebendo visitas e até dando conselhos. É o caso da mãe de Yohana Palangda, que era vista como uma espécie de guru em sua aldeia e, mesmo passado mais de um ano de sua morte, continua tendo um lugar especial na casa de sua filha.
Nesse estado, o defunto é chamado de “makala”, que significa “pessoa doente”. Seu corpo é tratado com formalina, uma mistura de formaldeído e água que faz com que sua carne não apodreça. Com o tempo, isso acaba se transformando em um processo de mumificação. Já o cheiro do cadáver permanece, mas é atenuado com incensos de sândalo.
Os velórios costumam ser grandes celebrações – iguais a um casamento ou a um batizado, por exemplo. Eles demoram a acontecer porque na tradição torajana toda a família precisa estar reunida para se despedir do ente querido. Uma espécie de “pré-funeral” acontece logo após a morte da pessoa, que depois retorna para casa à espera do velório especial.
De volta ao lar, muitas pessoas até servem refeições aos falecidos. A jornalista Amanda relato o caso de uma família que havia perdido a mãe duas semanas antes, mas, mesmo assim, servia quatro refeições por dia para ela: café da manhã, almoço, chá da tarde e janta.
Os grandes velórios são capazes de parar uma aldeia. Nem mesmo ambulâncias com pessoas doentes conseguem ultrapassar a multidão. A jornalista definiu isso assim: “Aqui, a morte supera a vida”. No ritual funerário, uma grande quantidade de búfalos é morta para ser oferecida aos convidados e guiar o falecido “do lado de lá”.
Engana-se, entretanto, quem pensa que os torajanos cultuam a morte: muito pelo contrário, eles procuram tratamentos ocidentais para que a pessoa enferma não acabe falecendo. E quando isso enfim acontece, a tristeza toma conta da família, assim como no Ocidente. O que muda, porém, é a maneira como se encara esse período depois da morte.
Tudo isso começou com a chegada dos missionários holandeses na região, os quais transformaram essa parte do país, que é tradicionalmente muçulmano, em um reduto cristão. Os funerais seguem os ritos de leituras de textos específicos da Bíblia, mas ainda não se sabe quando foi iniciada a cultura de demorar para fazer os enterros. No começo do século 20, quando a escrita chegou à região, pessoas já documentavam esse tipo de comportamento.
A jornalista tenta traçar um paralelo entre o que acontece na Indonésia e o que praticamos no Ocidente. Citando os escritores Colin Murray Parkes e Holly G. Prigerson, do livro “Bereavement”, Amanda lembra que é comum, por aqui, mantermos um tipo de contato com nossos entes falecidos.
Muitas vezes, nós sentimos suas presenças e continuamos conversando com eles, mesmo após suas partidas. Não é incomum, inclusive, que a gente alegue ser capaz de vê-los em espectro. Quão diferente isso é da cultura torajana, que, grosso modo, faz as mesmas coisas, só que com os corpos das pessoas na sala?
Essa tradição também serve como turismo: principalmente europeus e australianos costumam visitar a região de Sulawesi para conhecer seus rituais fúnebres. Para os habitantes locais, isso é uma prova do quão importante é a família e de por que isso deve permanecer em sua cultura.
Você pode até achar uma desculpa para não ir a um casamento, mas, se você tiver a oportunidade de ir ao funeral de um parente, você realmente vai dispensar essa última chance? A maioria com certeza não. Tanto que na Indonésia eles também servem para você conhecer membros familiares distantes.
O funeral é tão importante para eles que é repetido depois de alguns anos. Nesse segundo ritual, chamado de “ma’nene’”, os corpos dos antepassados são desenterrados para receber uma nova mortalha, além de lanches e cigarros. Isso acaba sendo uma forma de “matar a saudade” de quem já partiu há mais tempo.
Amanda Bennett termina sua matéria levantando algumas questões: “Como nós, ocidentais, nos distanciamos tanto da morte? Como perdemos a sensação de estarmos ligados uns aos outros, à sociedade e ao Universo?”. Fica a reflexão…
Fonte : Mega Curioso
Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.
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