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5 meses atrásno
Nos últimos dias uma série de fake news tomou conta das redes sociais. Nela, perfis conservadores estavam indignadíssimos por conta da pugilistas Imane Khelif, argelina, ter ganho da italiana Angela Carini, que acabou desistindo da luta por fortes dores. Segundo as publicações, em sua maioria o teor era o seguinte : “é um absurdo ver um homem esmurrar uma mulher e todos aplaudirem“.
Quem fala assim, parece até que pegaram uma pessoa qualquer no meio da rua, colocaram um uniforme, e mandaram pra Paris pra disputar. A realidade não é essa. Essa aí é uma realidade paralela, local onde a maioria das pessoas que pensou isso vivem. Provavelmente sejam as mesmas pessoas que acharam que a abertura DAS OLIMPÍADAS, ao homenagear o quadro “Deuses do Olimpo” estavam fazendo sátiras ao quadro do artista Italiano Leonardo Da Vinci da “A última Ceia”. Lembrando que essas obras de arte não estão na Bíblica. São apenas pinturas, representações e não objetos sacros.
Tanto, que logo após a luta, a italiana afirmou que desistiu do embate por conta de dores no nariz, negando qualquer relação com a condição da adversária. “Entrei no ringue e tentei lutar. Eu queria vencer”, explicou.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) emitiu um comunicado na tarde desta quinta-feira (1), informando que as pugilistas Imane Khelif, argelina, e Lin Yu-ting, taiwanesa, sofreram ataques enganosos em redes sociais, pois, não passaram em testes de gênero que foram realizados pela Associação Internacional de Boxe (IBA), mas os procedimentos a que foram submetidas eram pouco claros e arbitrários. Antes disso, sempre estiveram dentro dos parâmetros estabelecidos pelo COI, pela Unidade de Boxe de Paris 2024 (PBU) e competindo em disputas internacionais de boxe, incluindo os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e o Campeonato Mundial da própria IBA.
“Os ataques contra essas duas atletas se baseia inteiramente nessa decisão arbitrária, que foi tomada sem nenhum procedimento adequado – especialmente considerando que esses atletas competem em competições de alto nível há muitos anos”, comunicaram em nota.
Joint Paris 2024 Boxing Unit/IOC Statementhttps://t.co/22yVzxFuLd pic.twitter.com/fZvgsW8OOi
— IOC MEDIA (@iocmedia) August 1, 2024
A polêmica tomou conta das redes sociais pouco antes de iniciarem as disputas de boxe feminino da Olimpíada. As pugilistas Khelif e Lin foram desclassificadas da Copa do Mundo de 2023, em Nova Delhi, organizada pela Federação Internacional de Boxe (IBA) — hoje descredenciada — após serem reprovados nos testes de elegibilidade. A medalha de bronze de Lin foi retirada após passar em testes “biomédicos” encomendados pela IBA.
Com isso, as duas sofreram inúmeros ataques de internautas e até de companheiras de profissão como a Caitlin Parker, da categoria até 75 kg, que considerou “perigoso” ter a participação de atletas que não passaram em teste de gênero.
De acordo com o COI, a decisão de desclassificação das atletas após não passarem nos testes, foi inicialmente tomada apenas pelo Secretário Geral e CEO da IBA, sem um procedimento padrão estabelecido pela Associação e que só foi solicitado após este caso.
No caso do Comitê, informam que, como nas competições olímpicas anteriores de boxe, o gênero e a idade dos atletas são baseados em seus passaportes.
Não vamos longe. No Brasil tivemos a judoca brasileira Edinanci Fernandes da Silva, nascida no município paraibano Sousa, que ganhou notoriedade nos Jogos Olímpicos de Atlanta de 1996 após algumas polêmicas envolvendo um aspecto de sua identidade sexual: a condição intersexo, presente em cerca de 1,7% a 2% da população mundial.
De acordo com o dicionário de Cambridge, considera-se intersexual o indivíduo que apresenta características morfológicas de ambos os sexos, masculino e feminino. Dessa maneira, Silva possuía testículos internos que produziam testosterona, o hormônio masculino, condição que poderia lhe ceder maior força bruta e uma suposta vantagem em face de suas adversárias. Além disso, a atleta possuía também o útero atrofiado, justificando o fato de nunca ter menstruado. Nesse contexto, apenas com 19 anos, a paraibana precisou se submeter, pouco tempo antes de ir à Atlanta, a uma cirurgia para a retirada dos testículos e do útero, objetivando, por conseguinte, ser aprovada no teste de feminilidade e competir nas Olimpíadas.
Nas Olimpíadas de 1936, começou um teste para verificar se as atletas eram realmente mulheres, olhando suas partes íntimas através de um desfile. Isso era muito humilhante e fez com que muitas desistissem de competir, deixando mais homens participarem do que mulheres.
Com o tempo, esse teste mudou para um teste cromossômico, onde se olhava se a pessoa tinha cromossomos XX (mulher) ou XY (homem). Apesar de ser mais privado, algumas mulheres ainda eram reprovadas por terem características diferentes. Esses testes terminaram em 1998 porque não funcionavam bem e eram caros.
Mesmo assim, em 2009, a corredora sul-africana Caster Semeya teve que fazer um teste porque achavam que ela tinha muita testosterona. Descobriram que ela tinha testículos internos que produziam testosterona. A África do Sul levou o caso para a ONU, que permitiu que Semeya continuasse competindo, e ela ganhou duas medalhas de ouro nas Olimpíadas de 2010.
A discussão sobre competidoras intersexuais voltou nas Olimpíadas de 2021, quando a World Athletics disse que mulheres com muita testosterona tinham uma vantagem injusta. Elas foram obrigadas a tomar pílulas ou fazer cirurgias para reduzir a testosterona. A ONU criticou essa decisão, dizendo que era injusto e doloroso.
Edinanci Silva, uma judoca experiente, agora ajuda atletas paralímpicos a se prepararem para competições. Graças ao seu treinamento, atletas como Alana Maldonado ganharam medalhas de ouro e bronze nos Jogos Paralímpicos de Tóquio.
Mesmo após muitos anos de debate, ainda não há uma solução clara para a participação de atletas intersexuais. As confederações internacionais têm um papel importante em criar regras que garantam inclusão e igualdade para todos.
Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.