Amazonenses Ilustres
Conheça a história de Zeca Xibelão, um ícone da cultura parintinense e do Boi Caprichoso
No rico universo do Boi-Bumbá de Parintins e da cultura amazônica, há figuras que transcendem o tempo e se tornam símbolos de uma identidade. Entre elas está José Monteiro de Souza, mais conhecido como Zeca Xibelão, uma personalidade emblemática cuja história e legado ecoam pelos corredores do Bumbódromo e pelas ruas da cidade.
O Zeca Xibelão foi mais do que uma mera figura folclórica, ele além de ter sido o primeiro tuxaua do Boi Caprichoso foi uma pessoa que revolucionou o Boi Bumbá de Parintins. Sua paixão pelo Boi-Bumbá era evidente em suas palavras e ações. Ele acreditava que era fundamental que as pessoas entendessem e conhecessem profundamente aquilo que cantavam, viam e ouviam durante o festival. Zeca Xibelão reconhecia que a festa não era apenas um espetáculo visual, mas sim uma expressão de identidade e um veículo de transmissão de valores culturais.
O apelido Zeca Xibelão ele ganhou do grande bispo Dom Arcângelo Cérqua, pois o Zeca tinha um rosto arredondado, com a aparência de quem se alimentava de xibé, alimento preparado à base de farinha de mandioca, e portanto, virou um Zeca “Xibé-lão”.
No entanto, apesar de sua importância, muitos desconhecem a verdadeira história por trás do nome Zeca Xibelão. Ele foi homenageado pelo Boi Caprichoso em 1989 em uma toada chamada Zeca Xibelão com uma toada magnífica, que narra sua jornada para o céu e sua ligação com os ancestrais. Essa toada, entoada com fervor nas arquibancadas do Bumbódromo, é apenas uma pequena amostra do impacto que Zeca Xibelão teve na história do Caprichoso.
” O primeiro tuxaua partiu
Num capacete alado subiu
Foi para o céu todo azul
Juntar-se aos seus ancestrais
Fumar caximbo da paz
Com nosso deus criador
Minha galera chorou
Mas vai enxugar o seu pranto
Na camisa azul e branca
No capecete espelhado
No passo cadenciado
Que Xibelão ensinou “
Outra homenagem de grande importância foi o Caprichoso nomear o seu curral com o nome deste grande tuxaua. O Curral Zeca Xibelão é o local onde o Caprichoso realiza seus ensaios, sendo assim um ponto turistico muito visitado no Festival e fora da época do Festival. Os tuxauas são figuras que demonstram a liderança dos chefes das tribos, a liderança dos morubixabas. São chefes administrativos diferente dos pajés que são chefes espirituais.
Os Tuxauas são figuras centrais no universo do Boi-Bumbá, representando a liderança das tribos e a conexão com as tradições ancestrais. Para Zeca Xibelão, ser Tuxaua era mais do que uma simples função; era uma missão de preservar e celebrar a cultura cabocla e indígena da região.
Em suas vestimentas monumentais, feitas com materiais retirados da própria natureza amazônica, como a juta, o tipiti, o abano, a malva, a jarina, as fibras de arumã, os peixes empalhados enfim, toda a natureza morta da floresta incluindo a arte plumária. Zeca Xibelão expressava sua profunda ligação com a terra e suas riquezas. Seus trajes eram verdadeiras obras de arte, carregadas de simbolismo e significado.
Os tuxauas para quem conhece bem o Festival de Parintins demonstram em uma leitura ideográfica, uma temática cabocla e indígena que interagem de forma bastante dinâmica valorizando a figura do homem da terra, o caboclo, o indígena em todos os seus momentos desde os momentos mais primitivos aos dias atuais.
O capacete de tuxaua mais famoso de Xibelão, que tinha uma conotação religiosa foi considerado gigante para a época e não escandalizou a igreja que sempre viu no Boi de Parintins uma forma do povo externar o seu agradecimento por tudo o que a mesma fez pelo seu povo e pelas graças que Nossa Senhora do Carmo derrama sobre este sábio povo.
Zeca Xibelão era azul e branco por inteiro assim como sua família, era primo dos radialistas Ruben dos Santos (ex-presidente do caprichoso) e Marcos Santos (apresentador do caprichoso por pelo menos 6 anos).
Detentor de um bailado cadenciado, brincava o boi com leveza por isso na poesia acima se diz que ele subiu para o céu todo azul em um capacete alado.
Mesmo católico Zeca Xibelão adotou a identidade tribal na brincadeira, e foi graças a Zeca Xibelão que a estética da arte indígena foi introduzida na festa, elemento que inicialmente fora muito criticado pelo contrário, mas que aos poucos se adaptou e incorporou também em suas apresentações. Sua visão visionária e seu compromisso com a autenticidade cultural deixaram uma marca indelével no festival de Parintins.
Ao longo de sua vida, Zeca Xibelão enfrentou desafios e críticas, mas nunca se afastou de sua missão de celebrar e preservar a cultura cabocla. Sua devoção ao Boi Caprichoso e sua dedicação à comunidade de Parintins são um testemunho do seu legado duradouro.
Hoje, o nome Zeca Xibelão ressoa como um hino de orgulho e identidade para os parintinenses. Sua memória vive nos corações daqueles que o conheceram e na alma da festa que ele tanto amava. Que seu exemplo inspire as gerações futuras a valorizar e proteger as tradições que tornam Parintins tão especial.
Um dos capacetes de tuxaua mais famoso de Zeca Xibelão / Foto : Divulgação
