Em entrevista veiculada no Folha de São Paulo, do último dia (14), venezuelanos residentes em Manaus contaram um pouco de como driblaram a crise e venceram na capital amazonense no ramo da beleza.
Bem antes dos indígenas venezuelanos warao se refugiarem em Manaus tentando deturpar a imagem dos venezuelanos, a Venezuela já era famosa por arrebatar concursos de miss mundo afora. Agora, além disso, os responsáveis por essas proezas estão saindo da Venezuela e imigrando para outros países. Em Manaus, é cada vez mais comum cortar o cabelo ou fazer um procedimento estético ouvindo o portunhol típico dos recém-chegados.
“Na Venezuela, levamos isso no sangue, é onde estão as mulheres mais belas”, se gaba a extensionista de cílios Wuilerma Rodriguez, 33, há um ano e meio em Manaus.
Convencida por um casal de amigos a se mudar para o Brasil, em quatro meses conseguiu alugar sua própria casa. Atualmente, trabalha em uma requintada clínica estética em Vieiralves, bairro nobre da cidade, e já trouxe outros quatro amigos que trabalham em estética -todos empregados um dia após chegar.
Ao comparar os dois países, ela diz que as venezuelanas costumam se maquiar em casa, enquanto as brasileiras procuram mais os salões.
O fenômeno não é exclusivo das mulheres. Há três anos na capital amazonense, o barbeiro Josué, 30, diz que a sua profissão lhe permitiu conseguir emprego e estabilidade mais rápido do que outros venezuelanos. “Basta demonstrar o que você pode fazer com uma tesoura.”
O barbeiro Josué / Divulgação
Localizada na rua do Comércio 2, a barbearia onde Josué trabalha faz parte de uma pequena concentração de cabeleireiros -quatro dos seis empregam venezuelanos.
“Elas já vêm preparadas, têm uma qualidade de serviço que, pelo menos aqui em Manaus, a gente não tem”, diz Alcimeia de Brito, dona do pequeno salão Belíssima, que emprega uma cabeleireira venezuelana. Ela diz que tentou contratar uma manicure do país vizinho, mas que já existe uma disputa entre salões para empregá-las.
A experiência dos profissionais de beleza contrasta com a dos cerca de 450 índios waraos, que, vindos de áreas rurais ou pesqueiras, estão alojados precariamente ao lado da rodoviária e em casas velhas no centro, levando a prefeitura a decretar estado de emergência social.
Não só os waraos estão em dificuldade. Criador de página no Facebook de venezuelanos em Manaus que tem quase 3.700 membros, o cozinheiro Alfredo Santistevan, 43, diz que muitos compatriotas com curso superior acabam em trabalhos de pouca qualificação, como ambulantes. Mas, no ramo da beleza, não faltam oportunidades: “Trouxemos um novo look para o estilo amazonense.”
Com informações da Folha de S. Paulo