Lendas Amazônicas
Lenda da cobra Honorato (Norato) e cobra Maria Caninana

Publicado
12 anos atrásem

A Cobra grande é uma lenda amazônica que fala de uma imensa cobra, também chamada Boiúna, que cresce de forma desmesurada e ameaçadora, abandonando a floresta e passando a habitar a parte profunda dos rios. Ao rastejar pela terra firme, os sulcos que deixa se transformam nos igarapés.
Conta-se que uma índia engravidou da Boiúna e teve duas crianças: uma menina que se chamou de Maria e um menino chamado de Honorato. Para que ninguém soubesse da gravidez, a mãe tentou matar os recém-nascidos jogando-os no rio. Mas eles não morreram e nas águas foram se criando como cobras.
Criaram-se livremente, revirando ao sol os dorsos negros, mergulhando nas marolas e bufando de alegria selvagem. O povo chamava-os: Cobra Honorato e Maria Caninana. Cobra Honorato era forte e bom. Nunca fez mal a ninguém. Vez por outra vinha visitava a tapuia velha, em seu tejupar* . Nadava para a margem esperando a noite.
Quando apareciam as estrelas e a aracuã* deixava de cantar, A Cobra Maria saía d’água, arrastando o corpo enorme pela areia que rangia. Vinha coleando, subindo, até a barranco. Sacudia-se todo, brilhando as escamas na luz das estrelas. E deixava o couro monstruoso da cobra, erguendo-se uma moça bonita e vistosa. Assim como seu irmão Honorato saiam como pessoas normais.
Cobra Honorato salvou muita gente de morrer afogada. Desvirou embarcações e venceu peixes grandes e ferozes. Por causa dele a Piraíba do Rio Negro abandonou a região, depois de uma luta de três dias e três noites.
Maria Caninana era violenta e má. Alagava as embarcações, matava os náufragos, atacava os mariscadores que pescavam, feria os peixes pequenos. Nunca procurou a velha tapuia que morava no tejupar.
Numa cidadezinha do amazonas, vive uma serpente encantadora, dormindo, escondida na terra, com a cabeça debaixo do altar da Senhora Santa Ana, na igreja que é da mãe de Nossa Senhora. Sua cauda está no fundo do rio. Se a serpente acordar, a Igreja cairá. Maria Caninana mordeu a serpente para ver a Igreja cair. A serpente não acordou, mas se mexeu. A terra rachou, desde o mercado até a Matriz.
Cobra Norato matou Maria Caninana porque ela era violenta e má. E ficou sozinho, nadando nos igarapés, nos rios e no silêncio dos paranás do arquipélago Mariuá.
Quando havia putirão de farinha, dabucuri de frutas nas povoações plantadas à beira-rio, Cobra Norato desencantava, na hora em que os aracuãs deixam de cantar, e subia, todo de branco, para dançar e ver as moças, conversar com os rapazes, agradar os velhos. Todo mundo ficava contente. Depois, ouviam o rumor da cobra mergulhando. Era madrugada e Cobra Norato ia cumprir seu destino.
Uma vez por ano Cobra Norato convidava um amigo para desencantá-lo. Amigo ou amiga. Podia ir na beira do Rio, encontrar a cobra dormindo como morta, boca aberta, dentes finos, riscando de prata o escuro da noite: sacudir na boca aberta três pingos de leite de mulher e dar uma machadada com ferro virgem na cabeça da cobra, estirada no areão.
A Cobra fecharia a boca e a ferida daria três gotas de sangue. Honorato ficava só homem, para o resto da vida. O corpo da cobra seria queimado. Não fazia mal. Bastava que alguém tivesse coragem.
Muita gente, com pena de Honorato, foi com aço virgem e fresquinho leite de mulher, ver a cobra dormindo no barranco. Era tão grande e tão feia que, dormindo como morta assombrava. A velha tapuia, ela mesma, foi e teve medo. Cobra Norato continuou nadando e assobiando nas águas grandes, do Amazonas ao Negro, indo e vindo, como um desesperado sem remissão.
Num putirão famoso, Cobra Norato nadou pelo rio Amazonas, até uma cidade vizinha. Deixou o corpo na beira do rio e foi dançar, beber e conversar. Fez amizade com um soldado e pediu que o desencantasse.
O soldado foi, com o vidrinho de leite e um machado que não cortara pau, aço virgem. Viu a cobra estirada, dormindo como morta, boca aberta, sacudiu três pingos de leite entre os dentes. Desceu o machado, com vontade, no cocuruto da cabeça.
O sangue marejou, a cobra sacudiu-se e parou. A cobra Norato deu um suspiro de descanso. Honorato veio ajudar a queimar a cobra onde vivera tantos anos. As cinzas voaram. Honorato ficou homem.
E Honorato só morreu,anos e anos depois. Não há nesse rio e terras do Amazonas quem ignore a vida da Cobra Norato. São aventuras e batalhas. Canoeiros, batendo a jacumã, apontam os cantos, indicando as paragens inesquecidas: “Ali passava, todo dia, a Cobra Norato…”.
Vocabulário
*Aracuã : é uma ave que faz muito barulho de manhã na beiro do rio.
*A tapuia: a índia.
*Tejupar: cabana.
Enviado por : Barcelos na Net
A Lenda da Cobra Norato e Maria Caninana, os filhos da Cobra Grande da Amazônia
Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.

Você Poderá Gostar
Depoimento de ribeirinho que viu a Cobra Grande causando enorme redemoinho bomba na web!
Conheça a Lenda do Tamba-tajá : A Planta do Amor Eterno da Amazônia!
Lenda Amazônica: Isabelle Nogueira brilha em baile com fantasia de Matinta Perera e vence votação popular
Pescador captura sucuri gigante na Amazônia e vídeo viraliza! Confira!!
Conheça os principais deuses da mitologia indígena brasileira
Confira 6 lendas brasileiras pouco conhecidas!