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Manaus, AM, domingo, 22 de dezembro de 2024

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Pesquisadora identifica mais de 300 células nazistas em funcionamento

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Um levantamento inédito feito pela antropóloga da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Adriana Abreu Magalhães Dias, pioneira nas pesquisas sobre a ascensão da extrema-direita nos anos 2000, identificou a existência de 334 células de grupos nazistas em atividade no Brasil, pelo menos, até o momento, essa palhaçada ainda não chegou no Amazonas.

A maioria dos grupos se concentra nas regiões Sul e Sudeste e se dividem em até 17 movimentos distintos, entre hitleristas, supremacistas/separatistas, de negação do Holocausto ou seções locais da Ku Klux Klan.

A pesquisa mostra que há registros de grupos localizados em cidades como Fortaleza, João Pessoa, Feira de Santana (BA) e Rondonópolis (MT). Porém, o estado com mais células é São Paulo, com 99 grupos, sendo 28 só na capital. Santa Catarina vem logo atrás com 69 células, seguido por Paraná (66) e Rio Grande do Sul (47). Há exemplos também de estados que estavam sem registros de atividades até pouco tempo, mas começam a ganhar corpo, como Goiás, que já possui seis grupos nazistas. As células são compostas por três a 40 pessoas.

m 2014 a Polícia Civil apreendeu em Itajaí materiais que faziam apologia ao nazismo(Foto: Victor Pereira, BD, 2014)

Em 2014 a Polícia Civil apreendeu em Itajaí materiais que faziam apologia ao nazismo(Foto: Victor Pereira, BD, 2014)

Em suas pesquisas especializadas na ascensão da extrema direita, Adriana também identificou mais de 6.500 endereços eletrônicos de organizações nazistas somente em língua portuguesa e dezenas de milhares de neonazistas brasileiros em fóruns internacionais.

Em entrevista ao jornalista Matheus Pichonelli, do UOL, a pesquisadora afirma que, normalmente, no Brasil, as células não se conectam, a não ser as grandes. “São grupos de pessoas que conversam, que se reúnem, e eu localizei essas reuniões por sites na internet, blogs ou fóruns. Nenhum deles tem uma corrente única. Eles leem autores que, pelo mundo, brigam um com o outro”, explicou.

Os neonazistas, segundo a Safernet, associação civil de direito privado com foco na defesa dos direitos humanos na web, são grupos que promovem a intolerância com base na ideologia nazista de superioridade e pureza racial com recursos de agressão, humilhação e discriminação. São pessoas que fabricam, comercializam, distribuem ou veiculam emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda com símbolos (como a cruz suástica) e a defesa do pensamento nazista.

A antropóloga conta que a finalidade dessas reuniões vai desde a própria leitura de textos nazistas quanto à incitação à agressões físicas contra homossexuais. A antropóloga afirma que os grupos estão presentes no Twitter e promovem uma postagem antissemita a cada quatro segundos. Ela já calculou também que há uma postagem em português contra negros, pessoas com deficiência e LGBTs a cada oito segundos.

A construção do ódio

Em setembro, os estudos da pesquisadora foram citados pela ativista Sharon Nazarian, vice-presidente da Liga Anti-Difamação, em uma apresentação na Casa Branca, sede do governo dos Estados Unidos. Entretanto, Adriana explica que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está ciente do problema em seu país, mas não demonstra interesse em encarar a questão.

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A construção desse ódio, segundo ela, está estruturada no culto à masculinidade que despreza minorias. “O ódio não é de agora. Sempre houve ódio racial, de classe, de gênero. Neste momento você tem uma articulação e uma sistematização deste ódio. Uma capilarização como projeto político em muitos lugares. E é impossível remover esse ódio enquanto você não civilizar as pessoas. É um processo muito complexo porque o ódio dá um conforto para elas”, afirmou ao portal UOL.

Adriana Dias se debruça sobre um novo conceito de empatia desenvolvido pelo filósofo australiano Roman Krznaric, que trabalha com o conceito de ‘humanidade compartilhada’. “Isso é o oposto do ódio. O século 20 foi o século da interiorização. Ele defende um processo de ‘outrorização’, em que nossa humanidade precisa ser compartilhada em outras humanidades possíveis”, explicou.

Em suas pesquisas especializadas na ascensão da extrema direita, Adriana também identificou mais de 6.500 endereços eletrônicos de organizações nazistas somente em língua portuguesa

Em suas pesquisas especializadas na ascensão da extrema direita, Adriana também identificou mais de 6.500 endereços eletrônicos de organizações nazistas somente em língua portuguesa

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