Publicado
5 anos atrásno
A diversidade de espécies agrícolas cultivadas pelas comunidades ribeirinhas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, localizada no estado do Amazonas, está sob ameaça. Localizadas em área de várzea, ecossistema alagável da Amazônia, as comunidades que praticam a agricultura sentiram os efeitos das mudanças climáticas em 2015, quando ocorreu a última cheia extrema na região.
É denominada ‘extrema’ a cheia de maior duração e nível de água do que o habitual. Uma pesquisa do Instituto Mamirauá identificou a perda de 45% dos cultivos agrícolas em duas comunidades da área por causa do alagamento prolongado.
Após os resultados do estudo, os pesquisadores, em conjunto com jovens ribeirinhos, organizaram feiras de sementes visando a manutenção dos diferentes cultivos na região.
Mudanças climáticas
“Estudos recentes apontam que mudanças no padrão de circulação atmosférica a nível global favorecem para que haja uma maior ocorrência de eventos climáticos extremos na Amazônia, em especial cheias extremas”, atestam pesquisadores do Instituto Mamirauá em conjunto com alunos do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) da instituição – autores do trabalho.
Para o estudo, foram realizadas 28 entrevistas nas comunidades Vila Alencar e Sítio Fortaleza, localizadas na unidade de conservação e a pesquisa revelou que as comunidades ribeirinhas da área sofreram, à época, perdas significativas nos cultivos agrícolas.
Além das 45% das plantas alimentícias, também foram comprometidas 20 variedades de mandioca e de macaxeira que não foram repostas porque as famílias não conseguiram guardar as ramas para dar continuidade ao cultivo.
Após a cheia, algumas famílias passaram a priorizar espécies de ciclo curto. Outras, passaram a praticar a agricultura em comunidades de terra firme, ou seja, áreas não cobertas pelas águas na época de cheia. “Essas estratégias contribuem para que as famílias mantenham e adaptem seus saberes agrícolas, cultivem espécies e variedades tradicionais, bem como ampliem redes de obtenção de sementes”, avaliaram os autores da pesquisa.
Jovens ribeirinhos e pesquisadores promovem feiras
Após a coleta dos dados, os pesquisadores, junto dos alunos do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), passaram a realizar ações para reposição de estoques e fortalecimento da agrobiodiversidade da região.
Em 2018, os pesquisadores promoveram a primeira feira de trocas de ramas e sementes na Assembleia Geral dos Moradores e Usuários da Reserva Mamirauá, evento que reúne anualmente as famílias da unidade de conservação.
Na edição de 2019 da assembleia, alunos do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) se envolveram na mobilização e promoção da feira. Os jovens realizaram informes em suas respectivas comunidades e também levaram sementes para trocas.
No total dezoito espécies estiveram disponíveis para troca. Foram elas: bacuri coroa (Rheedia sp.), jerimum tradicional (Curcubita sp.), manga (Mangifera indica), limão (Citrus sp.), azeitona (Syzygium cumini), pimenta cheirosa (Capsicum spp.), pimenta ardosa (Capsicum spp.), banana maçã (Musa sp.), abacate (Persea americana), feijão (Phaseolus vulgaris), melancia (Citrullus lanatus), cacau (Theobroma sp.), guaraná (Paullinia sp.), macaxeira e mandioca (Manihot esculenta), pião roxo (Jatropha gossypifolia), araçá (Psidium sp.) e goiaba (Psidium guajava).
A participação dos estudantes do CVT, atestaram os pesquisadores, significou ‘grande evolução’ para alcançar o objetivo de aumentar e fazer a manutenção das variedades de espécies e também incentivar o aprimoramento de técnicas de cultivo nas comunidades frente às ameaças impostas pelas mudanças climáticas.
O estudo “Da pesquisa à extensão: ações de pesquisadores e jovens do Centro Vocacional Tecnológico para o fortalecimento da agrobiodiversidade frente a fatores climáticos extremos em áreas de várzea da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá” é de autoria de alunos do Centro Vocacional Tecnológico e de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Instituto Mamirauá. O trabalho foi apresentado no 16º Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia (Simcon), que aconteceu do dia 3 ao 5 de julho, em Tefé, no estado do Amazonas.
Texto: Júlia de Freitas
Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.
IBAMA flagra rio de sangue após frigorífico despejar sangue de boi em igarapé!
Canhões da colonização portuguesa no Alto Solimões são encontrados após seca record!
Startup amazonense quer captar R$ 500 mil para ampliar serviços de logística na Amazônia!
Representante do BID no Brasil convida presidente da CNC para evento de sustentabilidade na Amazônia
Arqueólogos do Instituto Mamirauá investigam urnas funerárias encontradas por família em Alvarães (AM)
Inscrições Abertas: Curso Online da REPAM-Brasil Promove Formação em Temas Cruciais para a Amazônia