Curiosidades Amazônicas
Saiba tudo sobre a Casa da Pimenta Baniwa
Publicado
12 anos atrásno
Após eu ficar sabendo sobre o tema das pimentas jiquitaias baniwas e postar aqui no blog, algumas pessoas me mandaram mensagens inbox perguntando onde era possível comprar essas pimentas, bem, encontrei aqui alguns locais que as vendem.
Um desses locais é no centro de Manaus e acredito que seja bem conhecido, chama-se Galeria Amazônica. A Galeria Amazônica fica em frente ao Teatro Amazonas. Existem também pontos de vendas em São Paulo, São Gabriel da Cachoeira e Brasília.
Esse post é portanto uma forma mais aprofundada de entender o que é essa pimenta baniwa, onde comprá-la e um pouco sobre o projeto da Casa de Pimenta Baniwa. E claro buscando valorizar os sabores do interior do Brasil e da Amazônia.
Já pararam pra pensar o quanto a Amazônia é rica em cores e sabores?
Pimenta Baniwa do Içana ganha casa própria e pretende conquistar novos mercados
Depois de funcionar de forma experimental por cinco meses, a Casa da Pimenta Baniwa foi oficialmente inaugurada em 30 de janeiro último, na comunidade de Tunuí-Cachoeira, distante 300 quilômetros de São Gabriel da Cachoeira, rios acima. A pimenta jiquitaia baniwa quer alcançar mercados como São Paulo, Manaus e Brasília.
Um brasileiro senta-se à mesa na metade sul da nação. A outra metade do seu país é quase tudo Amazônia. O mais gigante sistema agroflorestal do mundo, que com suas florestas manejadas vêm alimentando sua gente nativa, há milênios, com sabores, cores, cheiros, texturas, mas que a mesa deste brasileiro pouco testemunha.
Uma experiência que desafia todo este cenário vem de um dos pontos mais distantes e isolados desta região, do extremo noroeste, na fronteira do Brasil com a Colômbia e Venezuela. Ali, comunidades da etnia Baniwa, da Terra Indígena Alto Rio Negro, vem se organizando para oferecer sua renomada pimenta tipo jiquitaia em mesas muito além da bacia dos rios Içana, Aiari, Cuiari e Negro, onde vive uma população baniwa de cerca de 15 mil pessoas em 200 comunidades e pequenos sítios distribuídos pelos três países.
Para isso, inauguraram oficialmente no último dia 30 de janeiro, depois de cinco meses de funcionamento experimental, a primeira Casa da Pimenta Baniwa. Um espaço de produção, envaze e armazenamento da pimenta jiquitaia, sob protocolo especial de produção. A jiquitaia, pouco conhecida além das fronteiras da bacia dos rios Negro e Branco, é uma “farinha”de pimentas com sal, que carrega uma diversidade enorme de variedades do gênero Capsicum, presente sobretudo nas rocas indígenas amazônicas, centro de diversidade e de domesticação.
Na cerimônia de inauguração, realizada em uma manhã tranquila, um pouco chuvosa, na comunidade de Tunuí Cachoeira, no Médio Rio Içana, os pesquisadores indígenas Silvia e Aloncio Garcia, representando o Projeto Pimentas na Bacia do Içana-Ayari, patrocinado pelo Programa Jovem Cientista Amazônida, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), contaram como transcorreram suas pesquisas. E revelaram como essas pesquisas contribuíram para definir e implementar um projeto arquitetônico apropriado às exigências das mulheres produtoras de jiquitaia, bem como às regras do sistema de vigilância sanitária.
A partir daí, será possível organizar a produção das roças familiares e incrementar a capacidade de atender a mercados de capitais como Manaus, Brasília e São Paulo, que já vêm sendo experimentalmente explorados desde o início do funcionamento da Casa da Pimenta Baniwa. Os dois pesquisadores destacaram com orgulho que aquele era um dia para “entregar resultados de pesquisa” (saiba mais).
Desafios das fututras gerações
Lideranças como André Baniwa (Oibi) e Ronaldo Apolinário (Abric), lembraram desafios que as comunidades indígenas necessitam enfrentar. Sobretudo as gerações mais jovens, que precisam promover seus produtos no mercado para não ficarem dependendo apenas da bolsa família e dos demais programas de assistência social do governo, ou da saída mais próxima para a cidade de São Gabriel da Cachoeira em busca de subempregos.
Beto Ricardo, do ISA, destacou que o Sistema Agrícola do Rio Negro foi declarado patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e que o ISA é parceiro nesta iniciativa porque acredita que a promoção da pimenta baniwa em nichos apropriados de mercado de alto valor agregado é uma das formas de fortalecer e atualizar o conjunto de práticas que sustentam esse sistema agrícola.
Comandado pelas mulheres indígenas, o Sistema Agrícola do Rio Negro garante a segurança alimentar de um enorme contingente populacional do qual fazem parte cerca de 64 povos que vivem no noroeste amazônico, tanto no Brasil, quanto na Colômbia e na Venezuela.
O renomado chef de cozinha Alex Atala, aceitou o convite da Organização Indígena da Bacia do Içana (Oibi) e do ISA, e finalmente subiu o rio para desembarcar por três dias em Tunuí Cachoeira e acompanhar todo o ciclo de pordução da pimenta baniwa, das roças até o potinho. Emocionado, Alex contou aos Baniwa que o motivo dele estar ali era seu interesse em conhecer essa metade do Brasil que não está na mesa, de apoiar uma reflexão urgente em nossa sociedade sobre o presente e o futuro da relação com a comida, com os lugares, as pessoas e as formas de produção daquilo que nos alimenta.
Essa foi mais uma das visitas que o chef fez ao Rio Negro nos últimos anos, num movimento que se soma a outros chefs de sua geração, que também vem buscando conhecer e valorizar os sabores do interior do Brasil e da Amazônia em suas receitas (saiba mais).
Guardiãs das roças
Por último, as mulheres baniwa, guardiãs das roças e de toda a sabedoria de como produzir alimento saudável, e cuidado com a natureza naquelas terras, destacaram o contentamento com aquele dia e as boas expectativas que a entrada em funcionamento da Casa da Pimenta está trazendo para a comunidade e seu dia a dia nas roças. Abriram as portas e entraram na primeira Casa da Pimenta Baniwa do Rio Içana, para dali colocar, de agora em diante, sua pimenta jiquitaia em novos lugares e mercados.
Ainda há muito a se fazer para que a presença desta imensa região amazônica na dieta alimentar do povo brasileiro se materialize com sua rica biodiversidade e agrobiodiversidade, seu potencial de produção de frutas, azeites, farinhas, molhos, temperos, raízes, nozes, cogumelos, mel e peixes.
Trata-se de um trabalho que deve começar pelas próprias cidades amazônicas, cada vez mais distanciadas da dieta de seus avós. Sucumbindo, cada dia mais, a um sistema agroalimentar em cujo centro estão redes de hipermercados e restaurantes, que não dialoga o suficiente com um sistema onde, majoritariamente, a floresta em pé tem algo para oferecer. Motivo de desmatamento crescente para abrir espaço para monoculturas de arroz, de soja, para o pasto, para o boi, com suas cadeias desconcertantes do que foi a história milenar de ocupação e uso daqueles ecossistemas.Motivo da falta de investimentos estratégicos para que as comunidades amazônicas possam produzir e dispor de seus mais peculiares ingredientes nas mesas brasileiras, enriquecendo nossa cultura alimentar, numa ponta, e gerando renda, bem estar e conservação da floresta, na outra. Assim, talvez, o Brasil também pudesse se sentir um pouco mais amazônico.
Veja onde se pode adquirir a pimenta baniwa
- Mercadinho Dalva e Dito (São Paulo/SP)
- Armazém Jacarandá (São Paulo/SP)
- Galeria Amazônica (Manaus/AM)
- Loja Wariró (São Gabriel da Cachoeira/AM)
- Escritórios do ISA em São Gabriel da Cachoeira, Manaus, São Paulo e Brasília
Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.
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