Curiosidades Amazônicas
Saiba tudo sobre o Festival Folclórico de Parintins
Publicado
9 anos atrásno
O Brasil é riquíssimo em pontos turísticos em toda sua extensão territorial e, em muitos desses locais, são apresentados eventos que cada vez mais cativam o gosto e a alegria dos turistas. Uma das localidades incluídas nessa relação é Parintins, no Amazonas, situada à margem direita do Rio Amazonas, no coração da Floresta Amazônica.
É sabido que o Estado é o grande zelador do patrimônio cultural, sendo o festival folclórico de Parintins hoje reconhecido como a maior festa popular e cultural do Estado do Amazonas.
“A festa do Boi-bumbá é uma grande ópera amazônica, com representações dramáticas montadas e realizadas em pleno Bumbódromo, com início, meio e fim. Verdadeiras peças de teatro sobre temas ligados à cultura da região amazônica são apresentadas ao ar livre. As lendas, os mitos e os fatos da historia são recriados e exibidos de maneira espetacular, entre fogos e surpreendentes efeitos visuais”.
Paulo José Cunha
HISTÓRIA DE PARINTINS
A cidade de Parintins, situada no Estado do Amazonas, com 7.069 Km² de superfície, banhada pelos rios Paraná do Limão, Aninga, Redondo, Francesa, Parapanema e Lago do Maracurany, limita-se ao norte com o Município de Nhamundá, ao sul com o município de Barreirinha, a Oeste com o município de Urucurituba e ao leste com o Estado do Pará, tendo sido descoberta em 1.542 pela expedição do conquistador espanhol Francisco Orellana, que a denominou de Província de Las Picotas.
Na divisão do território da cidade de Parintins, pelo rio Amazonas, fazem parte da margem direita os rios Andirá, Uaicurapá, Mamuru, Juruty, Parananema, Mariacuam e Mariacuanzinho; os Lagos Uaicurapá, Mumuru, Tracajá, Máximo, Zé-Miri, Zé-Açu, Limão, Muiratinga, Aninga, Jacaré, Miriti, Macurany, Parananema e Francesa; os Igarapés Xibuí, Boto e Parintins; e rios Paranás do Ramos, do Limão, de Parintins e do Limãozinho
No entanto, somente no século XVIII, após forte ataque dos portugueses aos índios tupinambás (homem viril), que os obrigou a fugirem desarticulados pelo rio Amazonas, Parintins ganhou relevância, já que passou, então, a ser ponto de passagem das várias etnias que buscavam esta região da Amazônia.
Assim, em 1796, o capitão de milícias José Pedro Cordovil, no comando de seus escravos e agregados, desenvolveu na ilha a pesca do pirarucu, plantio de mandioca, tabaco e cacau, denominando a ilha de Tupinambarana.
Em 1803, o Conde dos Arcos, capitão-mor do Pará, elevou a fazenda à categoria de Missão com o nome de Vila da Rainha, nomeando o Frei José das Chagas para dirigi-la. Devido ao grande surto de progresso na ilha, em 1833 ela passou a Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana. Depois de 15 anos, uma Lei Provincial do Pará desmembrava-a de Maués e a ilha ganhava a categoria de vila – a Vila Bela da Imperatriz. No Natal de 1880, a sede do município recebeu foros de cidade e passou a chamar-se Parintins. O nome da cidade foi escolhido mediante decisão da Câmara. Provincial do Amazonas, com a finalidade de prestar uma homenagem aos seus mais antigos habitantes, os índios Parintintins, tribo guerreira do tronco Tupi, originária do rio Madeira, mas que passou pela ilha deixando sua marca, ao guerrear com as tribos do lugar. Um ano depois, a freguesia do Andirá foi desmembrada de seu território para construir o município de Barreirinha.
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE PARINTINS
Em Parintins há um conjunto de festas que marcam o calendário anual da cidade, e uma parte significativa é destinada à comemoração de santos. Dentre essas festas mantem-se a tradição das pastorinhas que saem às ruas no mês de dezembro. As festas principais, no entanto, são o Festival do Boi-Bumbá e a festa em louvor a Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Parintins, que se realiza de 6 a 16 de julho.
A ORIGEM DO FESTIVAL DE PARINTINS
O folclore de Parintins iniciou-se, certamente, com os primeiros habitantes da ilha, são eles: maués, sapopés, mundurucus, parintintins, pataruanas, paraueris, paravianas, tupinambás, tupinambaranas e uaipixanas.
As principais festas eram as danças da tucandeira ou tocandira, dos Maués e Mundurucús. Os maués celebravam como festa nupcial e os mundurucús, como sinal de emancipação e robustecimento de provas. Os Mundurucús também tinham a Festa da Vitória, onde exibiam a cabeça do inimigo enfeitada de plumas e plúmulas. É sabido que o folclore indígena decantava a natureza e tudo que ela criou: os pássaros, os animais, as árvores, as plantas medicinais, as ervas aromáticas e a imaginação criou os monstros das florestas e das águas, tais quais: jurupari, juma, mapinguari, curupira, yara, acãuera-de-fogo, cobra-grande, tapirayauara, boto e tantos outros seres misteriosos e encantados.
No Folclore de Parintins são encontrados elementos históricos relatados pela historiografia amazônica e pelas tradições do lugar, onde se incluem as lendas, mitos, crendices e canções dos índios, além de outras tradições populares dos portugueses e africanos, reunidas na sabedoria popular há mais de três séculos. Nesses termos, é interessante observar que o folclore se refere a um contexto amazônico e é resultado da criatividade dos parintinenses, agindo de modo criativo na história e tradição popular para exteriorizar uma sabedoria que se expressa de várias formas, entre os quais pelo Boi-Bumbá.
O Boi-Bumbá é uma manifestação folclórica do Maranhão, trazida para a Amazônia pelas primeiras levas de migrantes oriundos daquele estado, povoadores brancos da região do extremo norte.
O ALTO DO BOI
A Festa do Boi é a encenação da lenda do Boi-bumbá. A histó ria é a seguinte: grávida, Mãe Catirina deseja comer a língua do boi mais bonito da fazenda onde vive, o que leva seu marido, o peão Pai Francisco, a matar o animal de estimação de seu patrão. O homem é descoberto e preso. Para salvar o boi, o amo manda chamar um médico e um padre, que acabam conseguindo ressuscitar o animal. Pai Francisco é perdoado e todos iniciam uma grande festa. Trazido do Maranhão, o espetáculo de Parintins ganhou algumas adaptações: o médico virou um pajé, a presença do negro foi substituída pela do índio e a prisão do matador só é conseguida com a ajuda de uma tribo indígena.
HISTÓRICO DOS BUMBÁS
A história registra a existência de outros bois bumbás anteriores aos atuais bois Garantido e Caprichoso. Entre 1910 e 1912, surgiu o boi Diamantino do piauiense Ramalhete. Em 1913, surge o Boi Caprichoso, que inicialmente chamava-se Galante, trazido de Manaus por Emídio Vieira e, em 1915, o boi Fita Verde do Aninga, de Izídio Passarinho, e, em 1913, o Boi Garantido, criado pelo poeta popular e folclorista Lindolfo Monteverde. Nas décadas de 30 a 60, os bumbás, os cordões de pássaros e de peixes, as pastorinhas, dançavam nas residências ou à frente delas e andavam pelas ruas alegrando o povo, que os acompanhava. Ainda existem muitas controvérsias em relação a criação dos bumbás em decorrência da rivalidade que sustenta a festa dos parintinenses.
O Festival Folclórico foi criado em 1966 e com ele a população passou a organizar uma modalidade de disputa para disciplinar o confronto entre os dois bois, o Garantido e o Caprichoso. O evento foi organizado por um grupo de jovens ligado à igreja a Juventude Alegre Católica (JAC). Segundo Raimundo Muniz, uns dos mentores do festival, o grupo organizou a competição porque a população já não conseguia mais conviver com a violência, desencadeada toda vez que os brincantes se encontravam nas ruas. Outra versão afirma que a motivação foi financeira. Supostamente, a associação teria criado o festival com a finalidade de arrecadar recursos para as promoções da igreja.
O ESPETÁCULO
A competição entre os bois tradicionalmente ocorria durante os dias 28, 29 e 30 de junho, no entanto, a partir deste ano, ocorrerá durante o último final de semana do mês de junho, com o objetivo de propiciar, com isso, maior fluxo de turistas, pois foi constatado que, quando coincidia de o Festival ocorrer nos mencionados dias, o fluxo de visitantes aumentava.
A preparação começa após o carnaval e se estende até os dias em que se realizam as apresentações dos bumbás. O período de maior investimento na preparação vai de abril até meados do mês de junho. Trata-se de um tempo marcado por diferentes ações: negociação de recursos, contratação de artistas, realização de festas, ensaios, treinamentos e a produção artística. Todo esforço é feito para antecipar os mínimos detalhes, de modo que no festival a atenção esteja fixada apenas nos acabamentos.
No período do Festival a cidade é organizada para receber os visitantes, os bois realizam os últimos ensaios e as festas de recepção aos turistas; têm-se ainda as apresentações dos dois protagonistas da festa.
A produção artística de cada bumbá é guardada a sete chaves. Por isso, a partir do momento que se inicia a elaboração do material a ser apresentado no Festival, o acesso aos locais de trabalho dos artistas é de controle absoluto. O rigor na entrada de pessoas é tamanho que esses locais são completamente fechados e guardados por seguranças e vigilantes. Aos artistas e demais trabalhadores, que têm contato com o material produzido, recaem desconfianças sobre a possibilidade de revelarem ao adversário as novidades e o esquema das apresentaçõ es. Por isso, eles também são vigiados. Os artistas não podem ter contato com pessoas do boi adversário e quando o fazem, o fato imediatamente chega ao conhecimento da diretoria.
BOI BUMBÁ CAPRICHOSO
O Boi Caprichoso surgiu, em 20 de outubro de 1913 a partir de uma cisão no comando do Boi Galante, passou a ter a denominação atual. Ocorre que, por divergências, o antigo dono do Boi Galante, Emídio Vieira, abandonou o comando do Boi que ficou a cargo dos irmãos Cid. Vindos de Crato, Ceará, os irmãos Raimundo Cid, Pedro Cid e Felix Cid, chegaram em Parintins em busca de trabalho, e prometeram a São João Batista: caso conseguissem emprego, reverenciariam para sempre o Santo com um boi de pano, e assim o fizeram, denominando-o Caprichoso. O Boi Caprichoso é conhecido como “diamante negro” em razão deste ser todo na cor preta – e possui na testa uma estrela, mas as cores que predominam são o azul e o branco.
BOI BUMBÁ GARANTIDO
Conta-se que, em 1913, Lindolfo Monte Verde, quando tinha 13 anos de idade, época em que ainda se sentava ao colo de sua avó para ouvir as lendas do boi de pano maranhense que dançava nas noites de São João, criou, inspirado no que ouviu, o boi que era brincado originalmente por meninos.
Por mais de sete anos o quintal de sua residência foi palco para a festa desse boi. Apó s muito esforço, Lindolfo conseguiu convencer sua mãe, Alexandrina Monte Verde, a ajudá-lo a fazer os primeiros chapéus e camisas vermelhas para que seu boi pudesse se apresentar nas ruas da cidade. Mas, foi com 18 anos de idade que a brincadeira de quintal de Lindolfo Monte Verde tornou-se motivo de promessa, e transformou o Garantido em um Boi de promessa, devido ao fato de Lindolfo, em viagem ao Pará, ter tido sérios problemas de saúde e, por conta disso, ter feito promessa a São João Batista que, caso se curasse, faria seu Boi brincar durante toda sua vida. A graça foi alcançada e Lindolfo cumpriu a promessa.
ITENS INDIVIDUAIS
Apresentador: é o mestre de cerimônia no espetáculo, condutor da festa, responsável pela apresentação de todos os quesitos do boi na arena e também pela animação da torcida.
Levantador de Toadas: é o cantor oficial do boi-bumbá. Suas funções são gravar o disco destinado ao Festival, participar dos ensaios e eventos mais importantes e atuar com intérprete durante todas as noites de apresentações.
Boi-Bumbá: é representado pela figura do boi, o personagem principal de cada bumba. Seu bailado é realizado por um indivíduo que se coloca embaixo da armação, intitulado tripa.
Amo do Boi: personagem originário do auto do boi e que representa o feitor da fazenda. No Festival o amo tira os versos dirigidos aos personagens mais importantes.
Porta-Estandarte: personagem feminina que se apresenta conduzindo o estandarte do boi. Sua fantasia inspirada em vestimentas que tipificam um vestuário considerado indígena.
Sinhazinha da Fazenda: personagem originária do auto do boi. Representa a filha do dono da fazenda. No festival ela se apresenta com um vestido longo e uma sombrinha na mão, denotando tratar-se de uma personagem de tradição portuguesa. Como parte de sua exibição na arena ela realiza a cena de dar o sal ao boi.
Rainha do Folclore: esta personagem aparece toda vez que o boi encena o quesito lenda amazônica. Por isso, ela é concebida como a personagem que representa os valores tradicionais da cultura regional, isto é, o folclore. Sua fantasia caracteriza uma vestimenta indígena.
Cunhã-Poranga: esta personagem tornou-se a mais importante nos últimos anos, dentre todas que se apresentam no Festival. O papel da personagem no espetáculo é representar a beleza feminina do boi-bumbá, manifestada no ideal da indianidade. Seu bailado é sempre realçado durante as apresentaçõ es e a fantasia caracteriza um vestuário indígena, mais destacada do que as demais personagens femininas.
Pajé: representa a figura do xamã das sociedades indígenas. Tem sido um dos principais personagens do espetáculo, pois seu papel está ligado à encenação do quesito considerado mais importante da apresentação, denominado ritual. Ele desempenha o papel de um curandeiro ou líder espiritual. O bailado e a fantasia executados pelo personagem em cena são concebidos como característicos do xamã indígena.
Batucada ou Marujada: é o conjunto de ritmistas dos bois. No Garantido esse quesito é denominado de Batucada e no Caprichoso Marujada de Guerra. Cada conjunto é constituído por aproximadamente 450 a 600 componentes e os instrumentos de percussão principais são: surdo, caixinha, repinique, xeque-xeque e palminha (dois pedaços de madeiras fixados nas mãos).
Tribos indígenas: cada tribo é constituída por 30 a 50 brincantes vestidos com fantasias que tipificam um grupo indígena. As fantasias são concebidas a partir de um processo de identificação dos vestuários cerimoniais de determinados grupos indígenas.
Figura típica regional: nesse quesito apresentam-se personagens em que os bois tipificam o índio e o caboclo. A encenação procura configurar essas categorias relacionando-as ao contexto amazônico e a determinadas atividades, tais como: pesca, caça, agricultura, entre outras.
Vaqueirada: é um quesito da tradição do auto do boi no qual são apresentados pequenos cavalos feitos de tala e pano conduzindo uma lança com o símbolo do boi. São ao todo 40 vaqueiros que se apresentam bailando em círculo na arena.
ELABORADO POR:
Miguel Guerreiro / Anderson Vieira / Natália Cerdeira / Luiz Augusto / Bruna Reis
REFERÊNCIAS
COTRIM, Gilberto. História e Consciência do Brasil. São Paulo: Saraiva 1996. pp. 246 a 247.
SOUZA, João Jorge. Parintins: A Ilha do Folclore. Manaus: Grafitec, 1987. p. 17.
SAUNIER, Tonzinho. Parintins: Memória dos Acontecimentos Históricos. Manaus: Valer/ Governo do Estado do Amazonas, 2003. pp. 176 a 178.
BRAGA, Sérgio Ivan Gil.Os Bois Bumbás de Parintins . Rio de Janeiro: Funarte/ Editora Universidade do Amazonas, 2002. p.p. 13 a 14.
Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.
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