Pra quem desconhece sobre as lendas indígenas, Jurupari é um ente estranho que visita os seres humanos durante o sono e os assusta com a visão de perigos horríveis, tremendos, impedindo-os ao mesmo tempo de gritar por socorro. Muitos o confundem com o Anhangá, gênio ou espírito que os indígenas brasileiros acreditavam ser protetor dos animais terrestres, mas perseguidor dos humanos. Todos, porém, concordavam que Jurupari e Anhangá representavam uma força diabólica, mas a maioria dos relatos colhidos sobre eles sugere que a crença quanto aos dois resultava dos pesadelos que atribulavam os índios durante o sono.
Foram os jesuítas que deram a Jurupari a característica de demônio. Como eram extremamente supersticiosos, os indígenas aceitaram sem discutir a versão de que espíritos do mal criavam as imagens noturnas que os assustavam e lhes perturbava o sono. E tanto isso é verdade que a designação Jurupari pode ser traduzida como “ser que vem à nossa rede”, que é onde os índios dormiam. Ou seja, ela traduz a ideia de que alguém visita os homens à noite, enquanto eles dormem, trazendo visões de muitos perigos e provocando com isso grandes aflições. Em outras palavras, nada mais, nada menos, que um pesadelo.
Tudo sobre o demônio indígena chamado Jurupari / Ilustração por Marcos Miller
Porém, há uma outra versão, na qual Jurupari é o legislador, filho de uma virgem, concebido por meio do sumo do mapati (imbaúba-de-cheiro) quando ela comia essa fruta no dia em que sua ingestão era rigorosamente proibida às donzelas. O Jurupari figura nas lendas tupis e também no folclore de tribos indígenas das mais diversas procedências. Jurupari foi o mensageiro do Sol na Terra, cujos costumes começou a reformar a fim de encontrar nela uma mulher tão perfeita que fosse digna de casar com o astro-rei. Mas não encontrou até hoje uma criatura nessas condições, e provavelmente não a encontrará jamais, mas apesar disso prossegue em sua busca porque essa é a missão que lhe foi confiada.
Diz a lenda que se deve a Jurupari uma série de benefícios para o sexo masculino. Quando chegou à Terra o governo aqui era exercido pelas mulheres, mas ele o transferiu para os homens alegando que o matriarcado contrariava as leis do Sol. E para que os do sexo masculino se tornassem independentes das do sexo feminino, instituiu grandes festejos em que nenhuma mulher poderia tomar parte, e segredos que somente eles poderiam conhecer. Os usos, leis e costumes que o herói solar criou são obedecidos até hoje por várias tribos da bacia amazônica.
Jurupari, O Enviado do Sol / Divulgação