Assassinada e enterrada no quintal de uma chácara de Brazlândia pelo ex-companheiro, Kelle Cristina Pereira da Silva, de 23 anos, teve uma infância e adolescência marcada pela violência, abuso sexual e traumas psicológicos. A jovem estava desaparecida desde 4 de janeiro e foi encontrada em estado avançado de decomposição na tarde desta segunda-feira (24/1), no Setor Rural Maranata. Suspeito de cometer o feminicídio, o homem, identificado como Mauro, se matou logo após prestar depoimento na delegacia sobre o desaparecimento da ex.
O Correio teve acesso com exclusividade a depoimentos de pessoas próximas à Kelle, que narram os episódios envolvendo a jovem. O primeiro trauma na vida da moça começou ainda na infância. Aos 11 anos, ela foi expulsa da casa da avó pelos tios. Sem lugar para morar, recebeu o acolhimento de duas mulheres, irmãs do homem o qual ela se casaria em seguida e tinha na época 28 anos.
Como consta nos autos do processo, entre 2009 e 2012, período em que a vítima tinha idade inferior a 14 anos, o homem começou a abusá-la sexualmente na casa onde moravam, na Quadra 34 de Brazlândia. Kelle teve a adolescência interrompida e engravidou por duas vezes do acusado. Ainda com base no documento, os fatos eram de conhecimento dos familiares da tanto da jovem, quanto do acusado e até do Conselho Tutelar da cidade.
Em depoimento prestado em 2020 na 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia), Kelle afirmou ter convivido com o agressor desde os 11 anos, e que, inicialmente, chegou a morar na casa da sogra, mas logo depois alugou a própria residência. A avó da vítima relatou durante o interrogatório que não aceitava a relação dos dois e que sempre discordou da relação, mas Kelle não dava ouvidos.
Indiciamento e condenação
Os policiais civis da 18ª DP também colheram os depoimentos dos conselhos tutelares da época. Uma mulher, que não atua mais na área, alegou não recordar do relatório produzido por ela e disse que tinha apenas uma “vaga lembrança” de que na Quadra 34 havia uma criança em situação vulnerável. A conselheira defendeu que “todas os casos em que o Conselho Tutelar (da época) foi provocado na sua gestão pelo Poder Judiciário, fora encaminhada resposta e nunca houvera desobediências às determinações judiciais”.
A PCDF por meio da 18ª DP tomou conhecimento dos fatos e, mesmo depois de 10 anos, deu início imediatamente às investigações. A apuração policial resultou no indiciamento do agressor por estupro de vulnerável. O Correio apurou que o homem foi condenado a 20 anos de prisão pela Justiça do DF. A sentença saiu em 16 de dezembro de 2021.
Após o rompimento do relacionamento marcado por estupros e traumas, Kelle conheceu Mauro. O homem ainda era casado e os dois costumavam se encontrar em uma chácara de Brazlândia, de propriedade dele.
Segundo as investigações, o relacionamento também era conturbado. “Trata-se de um homem muito possessivo e ciumento”, descreveu o delegado-adjunto da 18ª DP, Ronney Teixeira. Os dois terminaram o namoro, mas ele não aceitava o fim. Em 4 de janeiro, a jovem desapareceu por volta de 12h. O Correio apurou que, minutos antes de sumir, às 11h40, ela havia recebido uma ligação do ex-companheiro, Mauro. Durante as investigações, o suspeito compareceu, na quinta-feira (20/1), à 18ª DP, para prestar depoimento. Um dia depois, ele tirou a própria vida.
Nesta segunda-feira, com o apoio de cães farejadores do CBM-DF, policiais civis da 18ª DP encontraram o corpo da jovem na chácara onde ela se encontrava com o suspeito. O cadáver foi encaminhado ao Instituto de Medicina Legal (IML).
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