Memórias do Amazonas
O Meleiro de Manaus: Ele sustentou a família vendendo mel, mas morreu tragicamente atropelado em Manaus

Nos tempos antigos de Manaus, entre as décadas de 1960 e 1990, uma figura se tornou inesquecível para moradores da zona sul e leste da cidade: Manoel Alves da Silva, mais conhecido como “o Meleiro”. Alto, magro, negro, com quase 1,80 de altura e dono de uma voz grave e potente, Manoel conquistou gerações vendendo mel de cana e espalhando alegria pelas ruas.
O apelido veio naturalmente: se o leiteiro vende leite e o padeiro vende pão, o Meleiro era aquele que levava o doce mel para os lares manauaras. E não era qualquer mel: seu produto vinha do interior do Amazonas, de locais como Janauacá, Manaquiri, Purus e Rio Preto da Eva. Qualidade que fidelizava fregueses.
A rotina dele era árdua. Acordava às 4 da manhã, tomava café e seguia para a Feira da Panair ou para o Mercado Municipal, onde comprava o mel. De lá, partia pelos bairros de Educandos, Morro da Liberdade, Betânia, Crespo, Santa Luzia, Colônia Oliveira Machado e até mais distantes, como Coroado e Japiim. Nos ombros, carregava o pesado galão. Nos lábios, o grito que todos reconheciam:
“MEEELEEIRO… ÔH MELEIRO!”
“TÁ TUUUDO MELLAAADDO!”
“Mela em cima, mela embaixo!”
Este último bordão, que muitos interpretavam de forma maliciosa, na verdade tinha um significado simples: ele vendia tanto nos bairros altos, como o Morro da Liberdade, quanto nos de áreas baixas, como a Betânia.
As crianças se dividiam entre correr com vasilhas para comprar o mel ou se assustar com aquela voz tão marcante que ecoava pelos becos. Já os adultos viam no Meleiro não só um vendedor, mas um símbolo de resistência, humildade e dedicação.
Nascido em 1916, em Pernambuco, Manoel teve uma vida de muito trabalho. Foi operário em fábricas, trabalhou como seringueiro no Acre e, em Anamã, aprendeu a arte de produzir mel. Quando voltou a Manaus em 1962, decidiu sustentar a família vendendo o produto que o tornaria uma lenda urbana.
Durante mais de 30 anos, Manoel sustentou sua esposa Alzira e os quatro filhos com dignidade, mesmo diante das dificuldades. Chegou a vender também garrafinhas de suco na entressafra da cana, sempre mantendo sua criatividade e disposição.
Infelizmente, em 1995, Manoel faleceu em um atropelamento no bairro do Coroado. Mas sua memória vive até hoje, seja nos relatos de antigos fregueses, seja em versos como o do poeta Everaldo Nascimento, que o eternizou em poesia.
O Meleiro é lembrado não apenas como vendedor de mel, mas como um pedaço vivo da memória popular de Manaus. Sua voz ecoa até hoje nas lembranças de quem cresceu correndo para comprar aquele mel doce e genuíno, carregado de histórias e afeto.
E você, chegou a conhecer o Meleiro? Qual lembrança tem dele? Compartilhe nos comentários!