Abaixo, um dos textos mais sinceros e honestos sobre o caso da advogada Tatiane Spitzner, 29 anos, que morava com o marido, o professor Luís Felipe Manvailer, 32 anos,e acabou morta na cidade de Guarapuava, na região central do Paraná. Tatiane foi encontrada morta em 22 de julho, depois de cair do 4º andar do Edifício Golden Garden – de uma altura de mais de 20 metros. Luis Felipe está preso, acusado de matar a mulher. Câmeras de segurança do prédio mostram ele agredindo a mulher por mais de 20 minutos antes da queda. O texto foi escrito por Camila Lozeckyi.
É um erro dizer que Luis Felipe Manvailer é um monstro ou alguém doente. É um erro, também, dizer que a bebida ou alguma outra substância o induziu à tirar a vida de Tatiane. Luis Felipe Manvailer é um homem comum. Ciente de seus atos e das consequências deles. Luis Felipe é um homem como tantos com os quais temos que conviver diariamente. Luis Felipe está nas academias. Nas universidades. Nos cafés. Nas praças. Nos locais de trabalho. Nas festas. Luis Felipe é muitos homens hostis que nos matam aos poucos. E que estão soltos.
Luis Felipe não é, portanto, doente e tampouco um demônio. Dizer que o é, retiraria dele toda a culpa, justificaria seus atos. Ele matou Tatiane por crueldade. Ele matou Tatiane porque pensou ter direito sobre sua vida e destino. Ele é um bandido. São. Ciente do que estava fazendo. Não existem nele patologias! Existe por trás dele uma sociedade machista, assassina, misógina, patriarcal. Que matou Tatiane mesmo em suas tentativas de fuga. Que matou Tatiane mesmo que ela tenha lutado e implorado pela vida. Que nos mata. Que pode me matar amanhã. Matar minhas colegas de classe, minhas tias, minha prima ou a moça da padaria.
Aos ouvidos que ouviram Tatiane: suas mãos também estão cheias de sangue. Por omissão.
E continuamos dizendo ‘nenhuma a menos!’. Mas duas de nós são mortas a cada duas horas no Brasil. Aproximadamente 12 de nós por dia. O que temos feito?
Penso ainda que Tatiane está, de fato, presente. Na luta. Em sua família que clama por justiça. Em nós mulheres que gritam e sangram.
Doce Tatiane: lutaremos por você. Para que possamos dizer que não há mesmo, uma sequer, a menos.
Tatiane Spitzner / Foto : Reprodução