Tambaquis atacam e ferem banhistas, casos levantam alerta

O tambaqui é um dos peixes mais icônicos da Amazônia, apreciado pelo sabor inconfundível e presença garantida na gastronomia amazonense. No entanto, a presença dele em outros biomas pode gerar impactos inesperados, como os ataques registrados em um balneário de Bonito, no Mato Grosso do Sul. O episódio levantou questões sobre a introdução de espécies em ambientes artificiais e os riscos dessa prática.

Balneário interditado após ataques de tambaquis

O Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) interditou um balneário em Bonito após uma série de ataques de peixes a banhistas. Este ano já foram registrados 30 casos, enquanto, no ano passado, houve 64 incidentes semelhantes. Um dos feridos chegou a levar oito pontos no dedo após ser mordido.

Banhistas são atacados por tambaquis ; entenda o caso – Imagem: Divulgação

A lagoa artificial onde ocorreram os ataques abriga várias espécies, incluindo o tambaqui (Colossoma macropomum). Segundo especialistas, esse peixe não é natural da região e sua introdução pode ter contribuído para os incidentes.

O que chama a atenção é que 20 desses incidentes ocorreram na Praia da Figueira, ponto turístico que está fechado desde o dia 23 de março. Dentre eles, 11 envolvem mordidas de peixes da espécie tambaqui, sendo cinco casos de amputação de dedos e os demais de sutura.

Uma das vítimas, identificada apenas como N. S. A., 61 anos, ainda está com o terceiro dedo da mão direita inchado, por conta dos 10 pontos que tentam cicatrizar a amputação da falange. O caso ocorreu no dia 17 de março, na hora do almoço. Ela e as amigas estavam no “bar molhado” e no momento em que ela se apoiou para tirar uma selfie, foi surpreendida pela mordida do peixe. “Só senti a fisgada. Ele ficou grudado na minha mão e depois se soltou. Lembro de ter visto meu osso e não quis mais olhar. Saí direto para o hospital”, conta.

Banhistas são atacados por tambaquis ; entenda o caso – Imagem: Divulgação

Comportamento alimentar do tambaqui

Natural da bacia Amazônica, o tambaqui é um peixe de grande porte que se alimenta principalmente de frutos e castanhas encontradas nas águas de florestas inundadas. Ele possui dentes robustos, semelhantes aos molares humanos, adaptados para quebrar alimentos duros. Essa caracterização faz com que sua mordida tenha grande força, capaz de causar ferimentos graves.

O biólogo José Sabino, professor visitante da Universidade de Campinas (Unicamp), explica que o comportamento alimentar do tambaqui pode tê-lo levado a confundir partes do corpo dos banhistas com alimentos. “Esses peixes estão sempre atentos a movimentos na água. Qualquer coisa que pareça um fruto pode ser alvo de uma mordida”, detalha o especialista.

Banhistas são atacados por tambaquis ; entenda o caso – Imagem: Divulgação

Impacto da introdução de espécies exóticas

A introdução de espécies fora de seu habitat natural é considerada crime ambiental no Brasil. Segundo Sabino, essa prática é um dos principais vetores da destruição da biodiversidade, junto com a poluição e o desmatamento.

No caso do balneário interditado, a presença do tambaqui pode ter ocorrido de forma intencional, mas sem o devido estudo sobre os impactos ecológicos e riscos para os visitantes. “A solução ideal seria a remoção dos peixes do local”, sugere Sabino.

Questão ambiental e responsabilidade dos órgãos reguladores

A interdição da lagoa levanta questões sobre o licenciamento ambiental do balneário e a responsabilidade dos órgãos reguladores. Como foi permitida a introdução de uma espécie amazônica em um ecossistema do Mato Grosso do Sul? O Imasul ainda não se pronunciou sobre a autorização para o funcionamento do local.

Enquanto isso, especialistas alertam para a necessidade de fiscalização mais rigorosa para evitar novos incidentes. A retirada dos tambaquis do balneário pode ser o primeiro passo para evitar que novos ataques ocorram e preservar tanto os peixes quanto a segurança dos banhistas.

Banhistas são atacados por tambaquis ; entenda o caso – Imagem: Divulgação