Publicado
3 anos atrásno
Entre os 301 atletas que compõem a delegação do Brasil em Tóquio, somente três são nascidos na região norte do país. Lucas Mazzo, da marcha atlética, e Rogério Moraes Ferreira, do handebol, são paraenses. Já o nadador roraimense Luiz Altamir está classificado para o revezamento 4 x 200 metros livre.
O levantamento foi feito com base no registro dos locais de nascimento dos competidores divulgado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) e mostra as dificuldades para se tornar um atleta de alto rendimento em meio a uma distribuição desigual de estrutura pelo país.
“A região não tem tantos recursos para investir no esporte, é bem pobre e precisa de melhorias no sistema de saúde e de saneamento”, diz Rogério, do handebol, à Folha. “O esporte acaba ficando de lado, e isso faz com que muitos desistam por falta de estrutura, por não ter apoio. Até se tornar profissional, há gastos com material esportivo, alimentação e suplementos, além de custos para tratar lesões.”
Na outra ponta, o Sudeste, a região com mais integrantes, reúne 182 competidores, 108 dos quais do estado de São Paulo. O Rio de Janeiro, por sua vez, tem 49 atletas, Minas Gerais, 20, e o Espírito Santo, 5.
Assim, a região mais populosa do país, onde vivem 42% dos brasileiros, concentra 60% da delegação olímpica. A região Norte, composta por Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, por outro lado, detém 8% da população do país, mas não forma nem 1% da equipe brasileira em Tóquio.
Há, inclusive, mais atletas que nasceram em outros países e se naturalizaram brasileiros do que nortistas. São nove os que competem dessa forma pelo Brasil: o jogador de vôlei Leal (Cuba), o cavaleiro Rodrigo Pessoa (França), a esgrimista Nathalie Moellhausen (Itália), o judoca Eduardo Yudi (Japão), a velejadora Patrícia Freitas (EUA), a velocista Rosângela Santos (EUA), o lutador Eduard Soghomonyan (Armênia), a jogadora de futebol Angelina (EUA) e a atleta de rúgbi Izzy Cerullo (EUA).
Outra discrepância é em relação ao Nordeste. Apesar de ter o dobro de habitantes da região Sul (14%), a segunda área mais populosa do país (28%) quase empata no número de competidores em Tóquio — são 45 nordestinos e 48 sulistas no megaevento esportivo.
Um dos principais nomes da seleção brasileira de handebol, Rogério nasceu em Abaetetuba, cidade com 159 mil habitantes no interior do Pará, e atualmente vive na Hungria, onde defende o Veszprém. Ele é o primeiro brasileiro a ser campeão, em 2017, e bicampeão, em 2019, da Liga dos Campeões na Europa.
O atleta começou a praticar handebol aos 12 anos e precisou deixar o Pará aos 16 para se consolidar como atleta. “Eu acabava torrando o pouco dinheiro que minha mãe tinha para me manter no esporte. Fui então para o Recife e encontrei um centro de treinamento, com material esportivo, academia, acompanhamento nutricional e médico, além de uma bolsa atleta [ajuda de custo]”, afirma o pivô.
Assim como Rogério, o nadador Luiz Altamir Lopes Mello, 27, nascido em Boa Vista, capital de Roraima, também deixou seu estado natal para se desenvolver no esporte. Quando completou 15 anos, partiu rumo ao Rio de Janeiro. Filho de uma professora de natação, começou a competir antes dos dez anos de idade.
Em Tóquio, integrará a equipe brasileira no revezamento 4 x 200 m livre. Luiz é bicampeão dos Jogos Pan-Americanos, ouro no revezamento 4 x 200 m livre em Toronto-2015 e Lima-2019. No Peru, também terminou com a prata no revezamento 4 x 200 m medley e o bronze na prova dos 400 m livre.
Na marcha atlética, Lucas Gomes de Souza Mazzo, 27, de Belém, no Pará, vai à sua primeira Olimpíada.
“Entrei pelo ranking de pontos, estava com um pontinha de fé. Hoje, quando acordei, pensei: ‘Caramba, estou na Olimpíada’”, diz o vice-campeão brasileiro da modalidade em 2019 à Folha.
Para Mazzo, que hoje vive em Brasília, falta incentivo no Norte e no Nordeste. “Vim para São Paulo ainda na infância, porque minha família sabia que lá tinha um pouco mais de oportunidades. Se investissem, teríamos muitos atletas no Pará. A gente tem força para buscar o impossível, limite só existe na cabeça.”
Os três atletas não figuram entre os favoritos por medalhas, e chegar ao Japão é a grande vitória até aqui. “[Mas] quero mostrar que é possível, apesar da dificuldade por vir de uma região esquecida”, diz Rogério.
Fonte : Folha de São Paulo
Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.