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5 anos atrásno
A Fordlândia hoje é uma cidade abandonada que serve de ponto turístico para visitantes do país inteiro. Ela está localizada no município de Aveiro, no estado do Pará, às margens do Rio Tapajós. Essa é uma das cidades abandonadas mais bonitas que já se teve notícia.
Sua história é fantástica gira em torno do grande Henry Ford, o fabricante dos carros americanos mais populares da época -1908 – o Ford Model T. Ele praticamente criou o estilo “carro popular”, porém, sua produção era ditada pela Inglaterra que dominava a produção de borracha, material básico na produção de seus automóveis.
A necessidade de escapar do monopólio inglês fez Henry Ford alimentar um sonho que se tornaria, em sua vida, um pesadelo.
Em 1923 ele veio pessoalmente e negociou com o governo do Pará uma concessão de uma área de 1 milhão de hectares às margens do Rio Tapajós e desse um milhão, Ford literalmente queimou 1% para poder construir seu sonho: uma cidade que abastecesse com matéria prima (borracha) suas produções de pneus em Detroit, longe do monopólio inglês e no lugar mais propício para a produção da matéria base. A região ficou conhecida depois que os britânicos levaram de lá mudas da árvore da borracha e plantaram em suas colônias, dominando assim a produção e o comércio de pneus.
Depois do terreno todo nivelado, as casa foram literalmente colocadas em seus lugares por guindastes. A cidade inteira foi transportada por navios dos EUA até o Pará.
A proposta da cidade Ford era muito mais que um mero acampamento para seus operários. Quando se soube da notícia da empresa se estabelecera na região e estaria contratando pessoas para compor seu quadro de empregados, apareceram pessoas de todos os cantos do país. Caboclos da região amazônica, nordestinos e brasileiros de outras regiões experimentaram um estilo bem diferente do que estavam acostumados.
Fordlândia oferecia casas para todos os funcionários, dos tiradores de borracha aos profissionais americanos que vieram e criaram suas famílias nesse lugar. Mas nem tudo eram flores. Como eu disse, os planos de Ford iam muito além de um simples alojamento.
Ele impôs a cultura americana – comida, hábitos, música e pensamento – aos seus empregados, e esse foi seu grande erro. Imagina só o caboclo amazônico, que produzia e tirava toda sua dieta alimentar da natureza, ter que, por obrigação, comer comida enlatada americana, vestir uniforme, frequentar bailes de dança ao ritmo de jazz, ir à missa evangélica, trabalhar de carteira assinada, ter horários rígidos e fixos – para almoço, jantar, café da manhã, para dormir, acordar – tudo isso na metade da década de 20. Pra ter uma ideia melhor, as idéias sobre confinamento e trabalho que Henry tinha serviram de inspiração aos campos de concentração de Hitler.
Foi um choque cultural enorme, e logo começaram a aparecer os conflitos entre os trabalhadores e os diretores. Algumas revoltas aconteceram, muitos trabalhadores foram embora e como se não bastasse tudo isso ainda teve a peste que assolou as plantações de seringueira de Ford.
O que Henry não sabia, mas que era de notório conhecimento de toda aquela população que havia lá, era que a seringueira não pode ser plantada em regime de monocultura, pois sem a proteção da floresta, seu habitat natural, ela fica totalmente vulnerável à sua pior praga. Resultado: as árvores morreram aos milhares e Ford abandonou Fordlândia. Abandonou a cidade e foi para a outra margem, construiu Belterra e plantou mais seringueiras.
Como já se sabia, a monocultura de seringueira não deu certo novamente e pouco a pouco todos os americanos voltaram ao seu país. Fordlândia e Belterra foram entregues ao governo brasileiro com tudo o que tinha. Em seguida houve o saque de tudo de valor que os americanos deixaram, feito pelos próprios governantes e pela população. Urubus em cima da carniça.
Hoje, Fordlândia ainda é habitada, mas está quase toda abandonada. Alguns prédios são mantidos por Belterra, que se desenvolveu bem mais. A igreja, a escola e uma ou outra casa.
Fordlândia atrai visitantes o tempo todo e, um dia, eu irei lá. Ver o sonho e a cidade que Henry Ford deixou na Amazônia. Deixou e, ironicamente, nunca foi ver. Pasmem! Ford nunca foi à Fordlândia depois de construída.
Algumas imagens da Fordlândia disponíveis na internet.
Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.
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