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O Cemitério São José foi um marco na história urbana de Manaus, situado em uma área que, atualmente, abriga a sede do Atlético Rio Negro Clube.
Este cemitério surgiu como uma resposta à necessidade urgente de um local adequado para os sepultamentos na cidade, que até então aconteciam em áreas próximas a igrejas, como no largo da Trincheira e nas imediações da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, onde os corpos eram enterrados em covas rasas, atraindo animais e comprometendo a saúde pública.
A iniciativa para a construção do cemitério veio em 1853, por meio do presidente da Província do Amazonas, Herculano Ferreira Penna. Em 1854, a área próxima à Igreja dos Remédios foi cercada e preparada como uma necrópole provisória, enquanto se planejava um campo santo definitivo. Essa decisão visava centralizar os sepultamentos e evitar as práticas de inumações em templos ou átrios, como determinava o Código de Posturas Municipais.
A construção do Cemitério São José foi iniciada em 1856 em um terreno de mais de 8 mil metros quadrados, delimitado pelas ruas Ramos Ferreira, Luiz Antony, Estrada de Epaminondas (atual Avenida Epaminondas) e o Beco dos Inocentes (hoje Rua Simón Bolívar). O cemitério recebeu seu primeiro sepultamento em 7 de março daquele ano, com o enterro do comerciante cearense João Fleury da Silva, que faleceu aos 44 anos. Nos primeiros anos, o local não tinha infraestrutura como cerca ou capela, fato que foi lamentado pelo então presidente da Província, João Pedro Dias Vieira, devido à falta de operários e ao clima chuvoso.
Em 1858, a área foi cercada com madeira, e uma pequena igreja foi erguida no centro do terreno, concluída em 1859. Nos três primeiros anos, o cemitério registrou cerca de 400 sepultamentos. Posteriormente, em 1866, foram contratadas obras para construção de um muro em alvenaria e a instalação de um gradil e portão de ferro na entrada principal, na Estrada de Epaminondas.
Já em 1875, o presidente da Província, Domingos Monteiro Peixoto, alertava para a saturação do cemitério, mas a situação só piorou com o passar dos anos. Em 1887, a Inspetoria de Higiene Pública sugeriu transferir os sepultamentos para o Cemitério dos Variolosos, situado na margem direita do igarapé da Cachoeira Grande, mas a falta de recursos impediu a construção de uma capela ou de uma ponte para facilitar o acesso. Como solução provisória, a área do Cemitério São José foi ampliada para o norte.
Em 1888, o espaço já estava novamente saturado, e os sepultamentos passaram a ser direcionados para o Cemitério São Raimundo, destinado às vítimas de epidemias. O último registro oficial de inumação no São José ocorreu em 16 de julho de 1890, com o sepultamento de Sebastião Gentil de Faria e Sousa, de 16 anos. Em 1891, um decreto estadual proibiu, de forma definitiva, novas sepulturas no local.
No final do século XIX, a capela original do cemitério, construída em madeira, já apresentava condições precárias. Em 1892, foi lançada a pedra fundamental para a construção de uma nova capela. Em 1894, iniciou-se o processo de transformação do cemitério em um jardim, com os restos mortais sendo transferidos para o Cemitério São João Batista, localizado em outra parte da cidade. Contudo, a execução dessa ideia só ocorreu na década de 1930.
Em 1901, o cônego José Henrique Felix da Cruz Dacia solicitou à Prefeitura autorização para realizar missas e outras atividades religiosas na capela do Cemitério São José, atendendo aos pedidos das famílias cujos entes estavam enterrados ali. Em 1926, a Prefeitura começou a remover os túmulos perpetuados e a transferi-los para o Cemitério São João Batista. Em 1932, o gradil da frente do Cemitério São José foi cedido ao Colégio Dom Bosco, e o terreno passou a ser transformado em um jardim denominado Jardim São José, que teve apenas seis anos de existência.
Finalmente, em 1938, o terreno foi doado ao Atlético Rio Negro Clube, fundado em 13 de novembro de 1913 como Athletic Rio Negro Club e mais tarde rebatizado com a grafia atual. A área passou a abrigar a sede social do clube, que permanece até hoje. O Atlético Rio Negro Clube, localizado na Avenida Epaminondas, é um dos mais tradicionais do Amazonas, com destaque em modalidades esportivas como futebol e vôlei. Atualmente, sua infraestrutura inclui quadras esportivas, piscinas, salões de festa e espaços para diversas atividades culturais e esportivas.
Essa rica trajetória do Cemitério São José até sua transformação na sede do Atlético Rio Negro Clube reflete as transformações urbanas e sociais de Manaus ao longo dos séculos XIX e XX. A área carrega memórias de um passado marcado por desafios de saúde pública e urbanização, que foram superados com o tempo.
Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.
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