O Brasil irá pagar 15 dólares por dose da vacina indiana Covaxin, 1.000% a mais do que o preço anunciado pela própria fabricante.
Ao iniciar as negociações, em agosto do ano de 2020, o imunizante foi oferecido por apenas 1,34 dólar ao País. Os detalhes da negociação constam em documentos do Ministério das Relações Exteriores. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.
Em pelo menos dois documentos, o preço bem abaixo dos 15 dólares foi registrado pela empresa Bharat Biotech. Em telegrama sigiloso de agosto do ano passado, o valor estimado pela fabricante era de 1,34 dólares. Em dezembro do mesmo ano, a empresa voltou a comunicar o baixo custo ao Brasil, dizendo em comunicado diplomático que a vacina “custaria menos do que uma garrafa de água”.
Em fevereiro, porém, o Ministério da Saúde concluiu a compra, pagando 15 dólares por dose, o maior valor entre as seis vacinas compradas até agora. A Pfizer, por exemplo, custou 10 dólares ao Brasil. O valor “alto” do imunizante americano é uma das principais justificativas do presidente Jair Bolsonaro pelo atraso da compra, fato que não pesou na aquisição da Covaxin.
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Covaxin
Polêmicas
As polêmicas em torno da vacina indiana, porém, não se limitam ao preço. A aquisição é alvo da CPI da Covid no Senado. A Covaxin foi a única a ser negociada usando uma empresa intermediária, a Precisa Medicamentos, que segundo o vice-presidente da Comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), receberá 500 milhões de reais pelo negócio.
A CPI já autorizou a quebra dos sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário de um dos sócios da Precisa, Francisco Maximiano. Ele irá depor nesta quarta-feira 23.
A compra da Covaxin também é cercada de pressões de membros da alta cúpula do governo. A ordem para a compra teria partido pessoalmente de Bolsonaro.
Em depoimento ao Ministério Público, um servidor do Ministério da Saúde relatou a pressão para acelerar a negociação.
Segundo contou, recebeu e-mails, mensagens e ligações até no fim de semana com pedidos para finalizar a aquisição. A pressão não ocorreu em nenhuma outra negociação de vacinas.
A Covaxin foi comprada antes mesmo da liberação da Anvisa para uso, que só ocorreu no dia 4 de junho. Na liberação, a agência fez uma série de restrições para a distribuição das doses, entre elas um plano de monitoramento dos imunizados. O plano, porém, ainda não foi apresentado.
Em nota, o Ministério da Saúde destacou que não fez pressões para aprovação da vacina e que até o momento não fez qualquer pagamento ao laboratório. Confira:
NOTA
O Ministério da Saúde informa que respeita a autonomia da Anvisa e não faz pressão para aprovação de vacinas. A pasta acata todas as decisões da agência reguladora.
O Ministério da Saúde reafirma ainda que mantém diálogo com todos os laboratórios que produzem vacinas Covid-19 disponíveis no mercado. No entanto, só distribui aos Estados imunizantes aprovados pela Anvisa, que avalia rigorosamente a documentação dos fabricantes.
É importante ressaltar ainda que, até o momento, o Ministério não realizou a compra da vacina Covaxin e não fez qualquer pagamento ao laboratório.