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Manaus, AM, quinta, 21 de novembro de 2024

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Não conheça Manaus ou Conheça por sua conta e risco

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Encontro das Águas/Foto: Revista Viaje Pelo Amazonas

Dizem que conselho se fosse bom se vendia, mas ao longo da vida vamos juntando bagagens que queremos compartilhar. Em função de muito que se tem falado sobre a Copa do Mundo e sobre turistas resolvi dar minha opinião. De quem morou em Manaus por 11 anos. Logo, se eu puder lhe dar um conselho, diria: não vá ao Amazonas. Não conheça Manaus. Tem muita coisa errada lá.

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Encontro das Águas/Foto: Revista Viaje Pelo Amazonas

Encontro das Águas/Foto: Revista Viaje Pelo Amazonas

A começar pelo povo. São pessoas que foram (e são) hostilizadas, sofreram preconceitos por terem nascido naquela região e ainda nos tratam bem. Estranhamente, o amazonense lhe faz sentir em casa. E olha que a casa deles é quente, mas o povo consegue ser mais caloroso. Amazonense é acolhedor sim. Não importa se acabaram de se conhecer, são tão esquisitos que não demora muito a oferecerem um churrasco (de peixe) com cerveja a você. E quando você sai da casa deles fica com a impressão de os conhecer há muito tempo.

Por falar em comida, não coma nada em Manaus. Principalmente se for peixe. Corra de pirarucu, fuja de tambaqui, vire o rosto para matrinchã, não prove jaraqui ou bodó. Você poderá estar fadado a nunca mais comer peixes da mesma forma. Um tambaqui assado simples já é um manjar à parte, quando misturado com as iguarias da terra, derrubam o mais forte caboclo imagine com os imigrantes de estômago estragado. As frutas também são atrações especiais.

Se você brincava de atirar mamona nos outros quando criança, ficará surpreso em conhecer o rambutã, uma espécie de mamona vermelha que tem um gosto único. E sim, chocolate melhora a vida de todos, e um creme de cupuaçu pode melhorar um chocolate. Poderia falar por páginas aqui da gastronomia e dos temperos, mas ainda há mais coisas para se precaver.

Por prevenção, se você mora numa outra capital, cuidado com Manaus. Ela costuma não ser violenta. Sim, é possível sair à noite e voltar para casa sem ser assaltado e o pior, sem necessitar ser neurótico. Há violência é lógico, mas localizada e pontual, com um pouco de atenção você também pode passar 11 anos ou bem mais incólume. E olha que saí muitas vezes à noite.

Ribeirinhos

Ribeirinhos

No quesito noite, Manaus é realmente uma terra de muitas tribos. Lá você encontrará rock (do leve ao death metal), blues, jazz, samba de raiz, música clássica, forró, brega, sertanejo universitário. A diversidade é tanta que é possível sair todos os dias da semana. Todos. E pensar que onde eu morava no sul poucas vezes vi concertos quiçá óperas. Em Manaus, ficava muito aborrecido quando perdia um festival amazonas de ópera. Aliás, festival cultural não falta, porque além das musicas há festivais de dança e de teatro. E mesmo não sendo tão valorizadas, como em tantos outros cantos deste país, as trupes fazem muitas apresentações. Foi no meio da selva que minha vida cultural deu uma guinada.

Sobre selva, fica a dica para os forasteiros: Manaus tem quase dois milhões de habitantes. A cidade é imensa. Não se veem muitos animais na rua, além dos que são vistos em outras cidades. Próximo a algumas zonas de proteção ou parques sim, mas nada muito além de uma preguiça ou pássaros (quem estuda na Federal do Amazonas costuma se deparar com preguiças atravessando a rua, isso porque a UFAM fica numa das maiores áreas de floresta preservada dentro de uma cidade). Para ver floresta e vida nativa é necessário sair um pouco da cidade e aí eu lhe digo: vale cada centavo. As cidades e passeios próximos são fora do comum. Começa pela beleza das paisagens e suntuosidade dos rios. Cachoeiras fantásticas, como na cidade de Presidente Figueiredo, e animais lindos, como os botos de Novo Airão. Há muita beleza natural nessas terras.

Já as coisas do homem da terra não merecem muita atenção. A cultura rica em lendas e mitos, rica não meu amigo MUITO rica, carrega um pouco do universo indígena com pitadas dos imigrantes. Para tudo há uma explicação mítica. E se só a beleza das histórias já encantam, quando o caboclo pega a musicar elas, transforma em toadas que merecem o respeito de serem ouvidas de olhos fechados. Como diria um amigo meu citando uma música de boi bumbá, há muito mais no “verde que desbota na distância que existe entre a mata e o homem” que imaginamos.

Por falar em Bumbás, há vida além de Garantido e Caprichoso. Os bois de rua de Manaus são muito populares na cidade, além de outras danças típicas como as cirandas da cidade vizinha Manacapuru. Mas a movimentação dada pelos bois de Parintins transcende o gostar de folclore e se rivaliza dos enfrentamentos não só nas arenas até nas rodas de bares e encontros amigos, onde conversas acaloradas sempre recordam momentos e festivais. Se quiser ofender um grupo de amazonenses, coloque toadas de um só boi. Sempre há um contrário para todos os contrários.

Como disse antes, não vá a Manaus. A cidade carece de infraestrutura, tem problemas na política e educação, como toda cidade brasileira hoje apresenta. Mas foi lá que encontrei Amazonas e bravos que me doaram, sem orgulho e sem falsa nobreza, lendas para sonhar, vida e riqueza nas lutas que travei. Não é apenas um hino, mas a imagem sincera de um povo que não tem pudores em ceder um pouco de si. Se contrariar meu conselho e for conferir de perto, insisto para que não vá com a cabeça aberta. Cerque-se de preconceitos e comparações com outros lugares em tudo o que vir e sentir lá, porque do contrário, com coração aberto amigo eu lhe garanto: você poderá se apaixonar assim como eu me apaixonei.

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Fonte : Jimi Aislan EstrázulasVida e Entravero

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Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.

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