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5 anos atrásno
Estamos habituados a ver os seres comerem algo orgânico. Carne, erva, ou até mesmo lixo e sujeira. Mas sempre orgânico. Agora quando nas Filipinas, nas margens do rio Abatan, e encontrado um verme que parece comer pedra, a coisa fica meia estranha.
Tudo começou quando se reparou que nas margens do referido rio as pedras pareciam queijos suíços, todas esburacadas. Rápido se percebeu que isso era obra do Lithoredo abatanica, um molúsculo que escava na rocha para se abrigar, mas que também a come. Alem disso, o pequeno ser tritura a rocha no seu trato digestivo em areia, que depois solta como excremento.
Este ser curioso foi identificado pela primeira vez em 2006 pelo Museu Nacional Francês de História Natural, numa expedição conduzida no local. Contudo, o ser só seria estudado mais recentemente por cientistas norte-americanos.
Uma espécie única, que mereceu o seu próprio e novo gênero taxonômico, tem como parente mais próximo os conhecidos “vermes dos navios”, que foram durante seculos os pesadelos dos marinheiros de barcos de madeira. Mas nestes seres, a madeira é efetivamente usada como alimento, pois no seu sistema digestivo, existem bactérias que transformam as lascas de madeira em um caldo nutritivo do qual o verme se alimenta. Contudo, o mesmo não pode ser dito do nosso “verme come pedra”, já que as rochas não têm nutrientes que possam ser usados pelo animal. Aliás, a rocha sai pelo ânus do animal tal como entrou, apenas mais triturado, finamente triturado. Isso levanta a sugestão de que o animal estará fazendo algo mais particular, interessante e curioso.
De ressalvar que não estamos mesmo falando de vermes. Apesar das aparências, ambos são molúsculos, como os mexilhões, ou os polvos. Contudo, a evolução levou a que esses seres ficassem com o corpo alongado (cerca de 10 centímetros, no caso do L. abatanica) e as suas conchas reduzissem de tamanho até se tornarem em apenas duas pequenas conchas. O contrário de algumas espécies da sua família, que incluem o maior bivalve do mundo, com conchas que atingem o metro e meio de tamanho.
O certo é que o animal, comendo e triturando a pedra em areia, acaba contribuindo para o ciclo dos sedimentos, aumentando o substrato no fundo do rio, e possivelmente influenciando o fluxo do rio Abatan. Fica agora em aberto para estudo dos cientistas descobrir a dimensão da influência do pequeno animal, bem como perceber as interações ecológicas locais, como por exemplo, de que forma outras espécies podem usar os tuneis escavados pelo verme ou de que forma a areia produzida influencia as dinâmicas ecológicas locais.
Claro é que o principal foco do estudo do animal será o porque do Lithoredo comer rocha. Até ao momento apenas existem especulações e comparações com parentes maiores, nos quais bactérias desempenhariam um papel fundamental no processamento do alimento. Perceber o porque de o animal ter desenvolvido a capacidade de moer pedra, bem como a forma que o faz, são pontos de interesse de investigação por parte dos investigadores.
Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.