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5 anos atrásno
Você já parou pra pensar na quantidade de benefícios que se tem o bodó? Pois saiba que é inversamente proporcional a sua aparência. Até porque todos sabemos que ele não é um dos peixes mais belos dos rios amazônicos, porém, seu sabor é forte e indescritível.
O “acari”, mais conhecido como bodó é um peixe comum em igarapés e rios do Estado do Amazonas, sendo um dos principais alimentos na mesa dos ribeirinhos e cartão postal na cidade de Parintins. O cascudinho apesar de assustador, revela-se um peixe com grande potencial econômico e nutricional.
O bodó possui distribuição restrita, é encontrado desde o rio Ucayali, no Peru, até a foz do rio Tapajós, no Pará. É um peixe de água doce da ordem dos Siluriformes (bagres) e família Loricariidae, que agrupa os cascudos e acaris. A reprodução da espécie acontece entre os meses de outubro e maio. O corpo do peixe é revestido por placas e espinhos que servem para defesa contra predadores naturais, como por exemplo, os botos. De hábitos noturnos, os bodós vivem agrupados em casais e na natureza tendem a se unir em blocos.
Durante estudos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), pesquisadores descobriram que o bodó é um dos peixes de água doce mais ricos da Amazônia. Dele pode se aproveitar tudo, até mesmo a casca, utilizada na produção de ração. Na tese de doutorado ‘Alterações pos-mortem e aproveitamento tecnológico do músculo de acari-bodó’, do pesquisador Fábio Tonissi Moroni, publicada em 2005, já era possível ver a importância nutricional do bodó.
Na pesquisa, Moroni mostra que parte do pescado é desperdiçado durante a comercialização. Segundo ele, nos períodos de safra, ocorre 50% de perda do bodó vendido nas feiras, apesar de ser negociado com os preços mais baixos do ano. A situação ainda é pior quando o bodó acaba morrendo nas bancas dos feirantes. “Ninguém compra bodó ‘frio’, ele é jogado nos corpos de água ou nos aterros sanitários”, destaca Moroni na tese.
Para os povos Tukano e Dessana, o bodó é conhecido como ia’ká. Existe uma forte influência da cultura indígena nas técnicas de preparo e conservação do cascudo. Antigamente, os indígenas assavam e enfumaçavam o bodó em uma grelha de madeira para que ele ficasse desidratado, o nome do processo era chamado de moquém. Dessa forma, o peixe podia ser armazenado durante semanas ou levado para viagens. Já para consumo imediato, os indígenas assam o peixe.
Com a vinda do colonizador para a Amazônia, o preparo do bodó sofreu algumas adaptações, por exemplo, o peixe passou a ser apenas assado, e não moqueado, sobre grelhas próximas ao fogo. Na mesma época, surgiu a famosa caldeirada de bodó, que acabou tornando-se um prato típico na Região Norte. Com o passar do tempo, outras receitas foram adaptadas para agregar mais valor ao sabor único do peixe.
Um exemplo é a caldeirada de bodó. O preparo é parecido aos dos demais peixes, com uma única diferença, o bodó vai inteiro para o prato. Geralmente, não se desmembra o bodó, ele chega completo no prato. Ele pode não ser o peixe mais bonito do mundo, e muitas pessoas não tem coragem de provar, mas fica delicioso. Até o aroma da caldeirada do bodó é diferente.
Além das receitas tradicionais, o bodó também pode virar um tipo de farinha, popularmente conhecido como piracuí, ou farinha de peixe na língua indígena Nheengatú. Para transformar o cascudo em farinha é necessário pilar o peixe sem espinhas até reduzi-ló a pó, sendo então colocado sobre um forno. O processo continua com o esfarinhamento da carne até ficar completamente enxuto, o alimento é popular entre os ribeirinhos da região amazônica.
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