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5 anos atrásno
Ela possui um rosto intrigante, com um leve sorriso em seus lábios. Apesar de estar com os olhos fechados, sua serenidade dá a sensação de que eles podem abrir a qualquer momento. Encontrada morta no final da década de 1880, nas margens do rio Sena, ninguém sabia ao certo seu nome, idade ou até mesmo a causa da morte.
Por isso, passou a ser chamada de L’inconnue de la Seine, ou A desconhecida do Sena. E assim começa sua história. Depois de ser encontrada morta — alguns pesquisadores acreditam que a jovem de 16 anos possa ter se suicidado, por não apresentar nenhuma marca de violência em seu corpo — o cadáver foi levado para o mortuário de Paris.
A prática era considerada comum, já que todos os cadáveres eram expostos em vitrines na esperança de que alguém pudesse reconhecê-los ou identificá-los. Entretanto, a jovem nunca foi reconhecida por ninguém, embora os traços chamassem a atenção de quem passasse por lá.
Uma dessas pessoas que ficou encantado pelo aspecto sereno e enigmático foi um patologista local. Sua obsessão tornou-se tão fervorosa, que ele contratou um artista plástico local para moldar a face da jovem em uma máscara.
Ainda mais estranho: a máscara começou a ser vendida e A Desconhecida do Sena virou musa inspiradora de artistas, escritores, poetas… Todos eles ficaram fascinados ao imaginar a sua história.
Man Ray, Vladimir Nabokov, Rainer Maria Rilke e Louis Aragon foram alguns dos nomes que ficaram enfeitiçados e se inspiraram no rosto da jovem, que tinha se tornado um ideal de beleza na época.
Apesar da figura da garota ser extremamente banalizada, somente 80 anos depois, em 1955, é que alguém viu um verdadeiro potencial na imagem e resolveu investir na figura da Desconhecida, ou ao menos em seus lábios.
O início dessa curiosa história tem um elemento em comum com ao da Inconnue: ambos são marcados por afogamentos. Tudo começou quando Asmund Laerdal salvou a vida de seu filho, de apenas dois anos, que estava se afogando. Desesperado, conseguiu limpar suas vias respiratórias ao retirar a água dos pulmões do garoto.
O trauma mudaria para sempre a vida do fabricante norueguês de brinquedos. Tudo porque, anos depois, ele foi convidado para ajudar na confecção de um boneco que seria desenvolvido para ajudar na formação técnica de uma recém-descoberta técnica de ressuscitação, a RCP — reanimação cardiorrespiratória —que é utilizada até os dias atuais.
Obviamente Asmund não recusou. Assim, ele criou um boneco, em tamanho real, que simulasse um paciente inconsciente que precisa de RCP. Seu maior desafio era implementar a complexidade da técnica com um visual agradável e natural.
Ele achou que um manequim masculino faria com que os homens da época se sentissem pouco confortáveis ao praticar a técnica do boca-a-boca. Quase que imediatamente, Asmund se recordou de uma máscara que ficava pendurada na casa de seus sogros. Isso mesmo, eles tinham uma máscara da Desconhecida do Sena como objeto de decoração.
Assim, ela virou o molde para todas as bonecas que seriam usadas no treinamento. A boneca ganhou o nome de Anne — que já era o nome de uma de suas criações anteriores. A fábrica do norueguês se especializou em equipamentos de simulação e treinamento de saúde.
A Resusci Anne, como ficou conhecida, pode não ser o único equipamento no mercado atualmente, mas sem dúvidas nenhuma é a boneca mais usada e beijada de toda a história. Ironicamente, a jovem morta no Rio Sena já ajudou a salvar a vida de mais de 2 milhões de pessoas e aquele rostinho leve e sereno do final do século 19, ainda hoje está em evidência.
Sou o idealizador do No Amazonas é Assim e um apaixonado pela nossa terra. Gravo vídeos sobre cultura, comunicação digital, turismo e empreendedorismo além de políticas públicas.
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